quinta-feira, 5 de julho de 2012

A situação da Igreja: uma ameaça, uma chance – II

A situação da Igreja: uma ameaça, uma chance – II

 

Mas, por que este fenômeno atinge sobretudo os católicos? Por vários motivos:

a) Somos a massa da população brasileira e não temos como dar assistência pastoral personalizada a todos os fiéis. Isso seria praticamente impossível, mesmo que tivéssemos o triplo do número de padres e agentes de pastoral...

b) Historicamente, nossa catequese deixou muito a desejar e nas últimas décadas piorou muito: é uma catequese de ideias vagas, mais ideológica que propositiva, ambígua, que não tem coragem de apresentar a fé com todas as letras... Ao invés, apresenta a opinião desse ou daquele teólogo... Assim, troca-se a clareza e simplicidade da fé católica (como o Catecismo a apresenta) por complicadas e inseguras explicações, fazendo a fé parecer uma questão de opinião e não uma certeza que vem de Deus; algo acessível a especialistas letrados e não aos simples mortais. Céu, inferno, anjos, diabo, purgatório, valor da missa, doutrina moral – cada padre diz uma coisa, cada um acha que pode construir sua verdade... Tudo tende a ser relativizado... Uma religião assim não segura ninguém e não atrai ninguém.Religião é lugar de experimentar a certeza que vem de Deus, não as dúvicas e vacilações dos tateamentos das opiniões humanas. É preciso que as opiniões cedam lugar à certeza da fé da Igreja!

c) No Brasil há, desde os anos setenta, uma verdadeiraanarquia litúrgicaferindo de morte o núcleo da fé da Igreja. Bagunçou-se de tal modo a liturgia, inventou-se tanta moda, fez-se tanta arbitrariedade, que as pessoas saem da missa mais vazias que o que entraram. A missa virou o show do padre ou o show "criativo e maravilhoso" da comunidade. A missa tornou-se autocelebração... Mas, as pessoas não querem show, criatividade nem bom-mocismo: as pessoas querem encontrar Deus nos ritos sagrados! Hoje, infelizmente, celebra-se com mais respeito e seriedade um culto protestante ou um toque da umbanda que uma missa católica! No culto não se inventa, na umbanda não se inventa; na liturgia da Igreja do Brasil, o clero se sente no direito absurdo de inventar! Isso é um gravíssimo abuso e uma tirania sobre a fé do povo de Deus! É muita invenção, é muita criatividade fajuta. Bastaria abrir o missal e celebrar com devoção e unção, cumprindo as normas litúrgicas...

d) A Igreja no Brasil, em nome de uma preocupação com o social (que em si é necessária e legítima) descuidou-se dos valores propriamente religiosos e muitas vezes fez pouco da religiosidade popular (quantas vezes se negou uma bênção, uma oração de cura, a administração de um sacramento, uma procissão com a presença do padre, o valor de uma novena e de uma romaria...). Ora, hoje o "mercado" de religião é diversificado: se o padre não sabe falar de Deus, o pastor sabe; se na homilia não se prega a palavra, mas se a instrumentaliza política e ideologicamente, o pastor prega a palavra; se o padre não dá uma bênção, o pastor dá... Infelizmente, às vezes, tem-se a impressão que a Igreja é uma grande ONG, preocupada com um monte de coisas e não muito atenta a pregar Jesus Cristo e a sua salvação... Não se vê muito nossos padres e freiras apaixonados por Cristo e pelo Evangelho. Fala-se muito em valores do Reino, compromisso cristão, etc... Isso não encanta! Quem encanta, atrai, comove, converte e dá sentido a vida é uma Pessoa: Jesus Cristo!

e) Outra triste realidade é o processo de dessacralização. Parece que o clero e os religiosos perderam o sentido do sagrado. Adeus ao hábito religioso, adeus à batina, adeus ao clergyman, adeus à oração fiel e obediente da Liturgia das Horas, adeus ao terço diário ("para que terço?"), adeus ao ethos, isto é, àquele conjunto de realidades, de modo de ser e de viver que fazia com que o povo reconhecesse o padre como padre, o religioso como religioso, a freira como freira.Parece que se faz questão de transgredir, de chocar, de desnortear a expectativa do povo, de negar a identidade... Hoje tudo é ideologizado: a pobreza é "espiritual" e não real, material, concreta; assim também a obediência, a vida mística, a penitência e a mortificação e, muitas vezes, os votos e compromissos... Tem-se, portanto,uma religião cerebral e não encarnada na carne da vida, da existência concreta material... E nada mais anticristão que um cristianismo cerebral...

f) Nossas comunidades são meio frias; nossos padres não têm muito tempo. Não temos leigos capacitados para umapastoral da acolhida, que faça com que nossas igrejas estejam abertas e tenham pessoas para ouvir, aconselhar, consolar... Infelizmente, ainda que não queiramos, às vezes a Igreja parece uma grande repartição pública e impessoal... A paróquia somente terá futuro como cadeia de comunidades vivas e aconchegantes, nas quais se façam efetivamente a experiência da proximidade de Deus e dos irmãos...

g) As homilias em nossas missas são chatas e moralizantes: só dizem que devemos ser bonzinhos, justos, honestos... A homilia deveria ser anúncio alegre da Palavra que comunica Jesus e sua salvação, tal como a Igreja sempre creu, celebrou e anunciou. A homilia deve ainda ser fruto de uma experiência de Deus; somente assim reflete um testemunho e não um exercício de propagandaA fé que devemos anunciar é a fé da Igreja, não nossas teorias e nossas idéias estapafúrdias... Isso desnorteia e destrói a fé do povo de Deus. Por que alguém seria católico se nem os ministros da Igreja acreditam realmente na sua doutrina e na sua moral? Os padres nisso têm uma imensa responsabilidade e uma imensa parcela de culpa!

 

  Escrito por Dom Henrique (http://costa_hs.blog.uol.com.br/)

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