quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

VIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA, MÃE DE JESUS CRISTO

VIRGINDADE
PERPÉTUA DE MARIA, MÃE DE JESUS CRISTO

O que significa este dogma? Trata-se de uma "invenção" da Igreja ou possui fundamento bíblico e histórico? Maria, mãe de Jesus, teve outros filhos? Quem eram os irmãos de Jesus, citados na Bíblia?

PARA NÓS, católicos, “Jesus é o único filho de Maria.” (CIC §501). Cremos que Jesus não teve irmãos de sangue, e isso testemunha o dogma da Perpétua Virgindade de Maria. Mas esta verdade de fé é muito contestada por “evangélicos” que, lendo superficialmente o Evangelho, encontram trechos aparentemente incompatíveis e menções aos "irmãos de Jesus". Vejamos o que diz O Evangelho segundo S. Mateus:
“Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs?” (Mt 13,55-56).

Sim, o texto sagrado cita "irmãos de Jesus", e em outras passagens ainda revela os seus nomes: Tiago, José, Simão e Judas. A versão de S. Marcos também nomeia os ditos irmãos de Jesus (Mc 6,3), e o Evangelho segundo S. Lucas diz: “Vieram ter com ele sua mãe e seus irmãos...” (Lc 8,19). Já o 4º Evangelho (S. João) relata: “Depois disto desceu Ele para Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos” (Jo 2,12). Também nos Atos dos Apóstolos encontramos referências aos irmãos de Jesus: “...Perseveraram unânimes em oração, com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os seus irmãos” (At 1,14).

E agora? Como podemos crer ainda na virgindade perpétua de Maria, se as Escrituras são tão claras em afirmar que o Senhor tinha irmãos?

Como sabemos, as passagens citadas acima são sempre usadas para atacar a fé dos católicos, e provocam mesmo confusão: Jesus teve mesmo irmãos de sangue? Acontece que a resposta nos é dada pela própria Bíblia Sagrada. Vejamos...

Como visto, os irmãos de Jesus seriam Tiago, José, Judas e Simão. – Mas, seriam eles filhos de Maria e de José? A resposta é não, não eram. Os Evangelhos testemunham que todos eles tinham outro pai e outra mãe. Pesquisando, vemos que a Bíblia cita dois Tiagos: um é filho de Alfeu (Cléofas), e outro é filho de Zebedeu. Lemos em S. Mateus (atenção para os grifos):
“Eis os nomes dos doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu.” (Mt 10,2-3)

E S. Mateus ainda nos revela o nome da mãe de Tiago e de José: “Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu" (Mt 27,55-56).

Vemos então que Alfeu (Cléofas) era o pai de Tiago e de José, os mesmos que são chamados "irmãos de Jesus". A mãe deles se chamava, sim, Maria, um nome que já era comum naquele tempo. Essa Maria era a mãe de Jesus? Não. Sabemos isso com certeza porque o Evangelho segundo S. João mostra esta Maria ao lado da Virgem Maria, mãe de Jesus, na hora da crucificação: “Junto à cruz estavam a mãe de Jesus, a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas, e Maria Madalena.” (Jo 19,25).

Se a Mãe de Jesus estava junto com Maria de Cléofas, que era a mãe de Tiago e José, então sabemos, sem nenhuma dúvida, que não se trata da mesma pessoa. E vemos que João chama à outra Maria de “irmã da mãe de Jesus”: “...a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas...”.

Logo, se o que o Evangelho diz é verdade (como católicos, cremos que é) está demonstrado que Maria de Cléofas era irmã da Maria mãe de Jesus, Nossa Senhora. Logo, segundo a Bíblia, Tiago e José, que são chamados irmãos de Jesus, eram na realidade seus primos.

Acabamos de provar que, na linguagem bíblica, o termo "irmão" pode designar parentesco, e não que quer dizer, necessariamente, que duas pessoas sejam filhas do mesmo pai e da mesma mãe.

Mas e quanto a Judas Tadeu, que também é citado na lista dos “irmãos de Jesus”? Este caso é bem interessante, porque o próprio S. Judas esclarece a dúvida, logo no início da sua Epístola, quando se apresenta: “Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago...” (Jd 1,1).

Portanto, S. Tiago, – que é diversas vezes chamado também de "irmão de Jesus", – assim como José e Judas, eram irmãos de sangue entre si, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, e eram sobrinhos de Nossa Senhora; logo, eram primos de Jesus. Fica aqui "biblicamente provado" o costume dos autores dos Evangelhos de se referir a primos e primas, ou em alguns casos até a parentes mais distantes, como "irmãos".

Quanto a Simão, contamos com os registros históricos de Hesegipo, historiador do primeiro século (que possivelmente conheceu os descendentes dessas pessoas) que incluem Simão entre os filhos de Maria e Alfeu. – E por que, exatamente, a Bíblia chama essas pessoas de “irmãos de Jesus”? É bem simples: são chamados “irmãos” porque na língua hebraica falada na época não havia um termo específico para “primos”. Nos textos originais, a grafia AH é empregada para designar parentes de até segundo grau.
Além de tudo isso, muitas outras evidências demonstram que a Sagrada Família de Nazaré era composta por três membros apenas, Jesus, Maria e José, como no início do Evangelho segundo Lucas, que traz a passagem em que Jesus é encontrado no Templo de Jerusalém, aos 12 anos, pregando aos doutores. De acordo com a lei judaica, toda a família devia peregrinar a Jerusalém, na Páscoa (conf. Dt 16,1-6; 2Cr 30,1-20; 35,1-19; 2Rs 23,21-23; Esd 6,19-22). E vemos que somente José, Maria e Jesus foram a Jerusalém. Maria afirma que somente ela e José procuraram Jesus, quando se perderam dele: “Filho, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua procura” (Lc 1,48). Se houvessem irmãos de Jesus, seriam mencionados aqui, mas não são. Outros filhos não são mencionados entre os integrantes da Sagrada Família, em nenhuma passagem da Bíblia.

Outro trecho bíblico que prova que Maria não tinha outros filhos: no momento da crucificação, em meio às terríveis dores, Jesus confere ao discípulo João a tarefa de acolher Maria em sua casa (Jo 19,27). Se Jesus tivesse irmãos de sangue, ele não deixaria sua mãe com João, até porque a Lei mandava que, no caso da morte do filho mais velho, o irmão mais moço deveria assumir os cuidados da mãe. Como Jesus não tinha irmãos, deixou sua mãe com João. Mais uma vez, está na Bíblia.

Outras contestações

1. Há um outro trecho, do Evangelho segundo S. Mateus, que também é usado pelos que contestam a virgindade perpétua de Maria, que diz: “(José) a recebeu (Maria) em sua casa sua esposa; e não a conheceu até que ela deu à luz o Filho” (Mt 1,25). – Alguns querem ver aí uma insinuação de que José e Maria não coabitaram no período da gravidez, mas que depois disso tiveram uma vida conjugal normal.

Ocorre, porém, que a palavra do texto original traduzida por “até” não tem essa conotação. Para tirarmos as dúvidas, basta observar que se trata do mesmo vocábulo usado em 2Samuel (6, 23), que diz o seguinte: “Mical, filha de Saul, não teve filhos até o dia de sua morte”. Fica bem demonstrado que, no contexto que estamos estudando, a preposição “até” pode indicar continuidade. Mical não teve filhos até a morte. E será que depois da morte ela teve filhos? Óbvio que não. A palavra “até”, aqui, sugere que a situação de Mical permaneceu a mesma depois da morte. O mesmo vale para a sentença “José não a conheceu até que ela deu à luz o Filho”. Virgem antes, permaneceu depois, assim como Mical não teve filhos até a morte, e, evidente, nem depois.

2. "Jesus, o Filho primogênito" – Outra contestação recorrente é aquela que se baseia, mais uma vez, na interpretação equivocada de um único adjetivo: "primogênito". Porque e Evangelho segundo S. Lucas diz que Jesus foi o primogênito, alguns são rápidos em supor que Maria teve outros filhos. Será?
Vamos entender muito bem o que isso quer dizer: o Evangelho diz: "Maria deu à Luz seu Filho primogênito" (Lc 2,7). Como sabemos, a palavra "primogênito" significa primeiro filho, e apenas isto, podendo esse primeiro ser filho único ou não. Segundo o estudo da filologia, na época da redação dos Evangelhos a palavra "primogênito" significava, literalmente, "o filho que abriu o útero". Assim, no Livro de Números (Nm 3,40), lemos: "O Senhor disse a Moisés: 'Faze o recenseamento de todos os primogênitos varões entre os israelitas, da idade de um mês para cima, e o levantamento dos seus nomes'".

Se a palavra primogênito indicasse a existência de outros irmãos, como poderiam haver primogênitos "da idade de um mês para cima"? Claro que os bebês de poucos meses, sendo os primeiros filhos, não tinham nenhum irmão. Mesmo assim, são chamados primogênitos. Muito simples.
Um outro exemplo está no Livro do Êxodo: "E morrerá todo primogênito na terra do Egito, desde o primogênito do Faraó, que deveria assentar-se no seu trono, até o primogênito do escravo que faz girar a mó, assim como todo primogênito dos animais" (Ex 11,5).
O Faraó tinha um único filho, – e este é chamado primogênito. – Mais uma vez fica claramente demonstrado que o fato de Jesus ser chamado primogênito não implica que Maria tenha dado à luz outros filhos, simplesmente porque filho único também é primogênito; também é aquele "que abre o útero". Em lugar absolutamente nenhum da Bíblia está escrito que Maria, mãe de Jesus, teve outros filhos, ao contrário: todo o contexto do Livro Sagrado indica que Jesus foi seu único Filho.

** Para encerrar, lembramos que a Virgindade Perpétua de Maria não é fé somente católica. Os cristãos ortodoxos professam a mesma convicção, e até os islâmicos. E assim, também, os chamados reformadores protestantes, que terminaram por dar origem àquelas que hoje são chamadas “igrejas evangélicas”, deram deste dogma o seu testemunho, como vemos, por exemplo, nos escritos do próprio Lutero:

“O Filho de Deus se fez homem, concebido do Espírito Santo, sem o auxílio de varão, a nascer de Maria pura, santa e sempre virgem.” (Martinho Lutero, “Artigos da Doutrina Cristã”)
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• Ref. bibliográfica:
MADROS, Peter H. Fé e Escritura - 2ª ed. São Paulo: Loyola, 1989, pp. 140-153
ofielcatolico.blogspot.com

FELIZ DAQUELA QUE ACREDITOU

FELIZ DAQUELA QUE ACREDITOU (cf. Lc 1, 45)
trecho da CARTA ENCÍCLICA, LUMEN FIDEI, DO SUMO PONTÍFICE FRANCISCO


 58. Na parábola do semeador, São Lucas refere estas palavras com que o Senhor explica o significado da « terra boa »: « São aqueles que, tendo ouvido a palavra com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão fruto com a sua perseverança » (Lc 8, 15). No contexto do Evangelho de Lucas, a menção do coração bom e virtuoso, em referência à Palavra ouvida e conservada, pode constituir um retrato implícito da fé da Virgem Maria; o próprio evangelista nos fala da memória de Maria, dizendo que conservava no coração tudo aquilo que ouvia e via, de modo que a Palavra produzisse fruto na sua vida. A Mãe do Senhor é ícone perfeito da fé, como dirá Santa Isabel: « Feliz de ti que acreditaste » (Lc 1, 45)

Em Maria, Filha de Sião, tem cumprimento a longa história de fé do Antigo Testamento, com a narração de tantas mulheres fiéis a começar por Sara; mulheres que eram, juntamente com os Patriarcas, o lugar onde a promessa de Deus se cumpria e a vida nova desabrochava. Na plenitude dos tempos, a Palavra de Deus dirigiu-se a Maria, e Ela acolheu-a com todo o seu ser, no seu coração, para que n’Ela tomasse carne e nascesse como luz para os homens. O mártir São Justino, na obra Diálogo com Trifão, tem uma expressão significativa ao dizer que Maria, quando aceitou a mensagem do Anjo, concebeu « fé e alegria ».[49] De facto, na Mãe de Jesus, a fé mostrou-se cheia de fruto e, quando a nossa vida espiritual dá fruto, enchemo-nos de alegria, que é o sinal mais claro da grandeza da fé. Na sua vida, Maria realizou a peregrinação da fé seguindo o seu Filho.[50] Assim, em Maria, o caminho de fé do Antigo Testamento foi assumido no seguimento de Jesus e deixa-se transformar por Ele, entrando no olhar próprio do Filho de Deus encarnado. 

 59. Podemos dizer que, na Bem-aventurada Virgem Maria, se cumpre aquilo em que insisti anteriormente, isto é, que o crente se envolve todo na sua confissão de fé. Pelo seu vínculo com Jesus, Maria está intimamente associada com aquilo que acreditamos. Na concepção virginal de Maria, temos um sinal claro da filiação divina de Cristo: a origem eterna de Cristo está no Pai — Ele é o Filho em sentido total e único — e por isso nasce, no tempo, sem intervenção do homem. Sendo Filho, Jesus pode trazer ao mundo um novo início e uma nova luz, a plenitude do amor fiel de Deus que Se entrega aos homens. Por outro lado, a verdadeira maternidade de Maria garantiu, ao Filho de Deus, uma verdadeira história humana, uma verdadeira carne na qual morrerá na cruz e ressuscitará dos mortos. Maria acompanhá-Lo-á até à cruz (cf. Jo 19, 25), donde a sua maternidade se estenderá a todo o discípulo de seu Filho (cf. Jo 19, 26-27). Estará presente também no Cenáculo, depois da ressurreição e ascensão de Jesus, para implorar com os Apóstolos o dom do Espírito (cf. Act 1, 14). O movimento de amor entre o Pai e o Filho no Espírito percorreu a nossa história; Cristo atrai-nos a Si para nos poder salvar (cf. Jo 12, 32). No centro da fé, encontra-se a confissão de Jesus, Filho de Deus, nascido de mulher, que nos introduz, pelo dom do Espírito Santo, na filiação adoptiva (cf. Gl 4, 4-6).

 60. A Maria, Mãe da Igreja e Mãe da nossa fé, nos dirigimos, rezando-Lhe: Ajudai, ó Mãe, a nossa fé. Abri o nosso ouvido à Palavra, para reconhecermos a voz de Deus e a sua chamada. Despertai em nós o desejo de seguir os seus passos, saindo da nossa terra e acolhendo a sua promessa. Ajudai-nos a deixar-nos tocar pelo seu amor, para podermos tocá-Lo com a fé. Ajudai-nos a confiar-nos plenamente a Ele, a crer no seu amor, sobretudo nos momentos de tribulação e cruz, quando a nossa fé é chamada a amadurecer. Semeai, na nossa fé, a alegria do Ressuscitado. Recordai-nos que quem crê nunca está sozinho. Ensinai-nos a ver com os olhos de Jesus, para que Ele seja luz no nosso caminho. E que esta luz da fé cresça sempre em nós até chegar aquele dia sem ocaso que é o próprio Cristo, vosso Filho, nosso Senhor.