quarta-feira, 31 de agosto de 2016

DE PROTESTANTE A MONJA DOMINICANA

Irmã Lucia Marie vive a 13 anos com as religiosas de sua congregação em Nashville,TN (Estados Unidos). Nesta reportagem explica como surgiu sua vocação depois de se converter.


fonte: http://www.religionenlibertad.com/video/de-protestante-a-monja-dominica-32306.html

terça-feira, 30 de agosto de 2016

A Igreja apostólica, hierárquica e visível

Praticamente todas as denominações protestantes --- há poucas exceções --- insistem que a Igreja é apenas invisível, composta por aqueles que "aceitaram a Jesus como seu único e suficiente salvador". Bem, não é isso que encontramos ao analisar as Sagradas Escrituras! Aqui está um texto do Dave Armstrong traduzido por Fábio Salgado de Carvalho


A Igreja apostólica, hierárquica e visível

(Dave Armstrong)

No Credo Niceno, que é aceito pela maioria dos cristãos, a Igreja cristã é descrita como sendo “Una, Santa, Católica e Apostólica”. Estas características são conhecidas como as quatro marcas da Igreja. As noções de santidade e de catolicidade não estão muito em disputa. A marca de santidade pode ser definida como a posse e disseminação do sublime, santo e cristocêntrico código moral do Cristianismo --- melhor exemplificado pelos Santos ou, de outro modo, por grandes personagens divinos. Todas as partes --- enquanto discordem em muitas questões particulares --- concordam que essa é a função central da catolicidade da Igreja, simplesmente, significando que ela seja universal. Aqui, protestantes e católicos discordam unicamente sobre a natureza daquela Igreja que é considerada universal e abrangente.

Isso nos leva à unicidade e à apostolicidade da Igreja, em que as discordâncias são enormes de fato. Muitos protestantes, especialmente os evangélicos, vêem a unidade e a unicidade subsistindo, primariamente, ou unicamente, na interna, invisível e espiritual unidade daqueles que estão, de fato, em Cristo em virtude de serem justificados, ou nascidos de novo, ou regenerados, com ou sem batismo, dependendo da denominação. Para eles, a igreja consiste em ter o Espírito Santo, em ser um eleito predestinado, em ser aquele que perseverará e está salvo agora e na eternidade.

A Igreja Católica tem sempre proclamado essa característica unificadora, também, sob o amplo e rico conceito de Igreja Mística (sob o qual ela reconhece o Protestantismo), ainda que não ponha a Igreja Mística contra a Igreja institucional ou visível como muitos evangélicos fazem. Para os católicos, então, essa característica da unicidade está substancialmente relacionada aos aspectos organizacionais e práticos da eclesiologia. Os católicos crêem que a Igreja é tanto um organismo como uma organização, e não apenas o primeiro. As "igrejas" místicas e visíveis são como dois círculos que, em grande parte, intersectam-se, mas que não coincidem. Elas existem conjuntamente --- de um modo um tanto quanto paradoxal, que carrega uma tensão consigo --- até o "fim dos tempos". Que tipo, entretanto, de organização é a Igreja, que abrange em si esses dois aspectos (assim como muitos outros)?

Nesse ponto da discussão, os católicos apelam à natureza hierárquica ou episcopal (isto é, sob a jurisdição de bispos) de governo da Igreja. Além disso, os católicos sustentam que esta forma é bíblica e divinamente instituída, não sendo, portanto, opcional ou de importância teológica secundária.

Finalmente, os católicos crêem que os bispos são --- devido ao próprio desejo de Jesus Cristo --- os sucessores dos apóstolos (o conceito de sucessão apostólica). Esta é a metodologia por meio da qual a Igreja Católica remonta a si mesma, historicamente, a uma sucessão ininterrupta, aos apóstolos e à igreja primitiva. O Catolicismo, então, enfatiza bastante tanto a continuidade histórica quanto a doutrinal, enquanto os protestantes evangélicos estão mais preocupados com a manutenção da paixão, de um comprometimento intenso e de um zelo que estavam presentes nos apóstolos e nos primeiros cristãos, estando menos interessados em formas de governo ou em doutrinas que são hoje vistas como “distintivamente” católicas. Eles tendem a ver claramente na Bíblia e na igreja primitiva essas doutrinas com as quais concordam, mas ignoram aquelas que estão em maior concordância com o Catolicismo, tais como o episcopado, o Purgatório e a apostolicidade.

Examinaremos as marcas da Igreja das quais os protestantes (apesar de muitas exceções) em grande parte discordam: a sua visibilidade, a hierarquia dos bispos, a sucessão apostólica e questões afins como a ordenação, os deveres dos sacerdotes e o sectarismo. A maioria destas questões está relacionada, em último caso, com a autoridade "per se". Os protestantes enfatizam a autoridade bíblica e os católicos, a liderança eclesiástica e episcopal e a Tradição. Se a Bíblia, entretanto, aponta-nos para a última e encoraja-nos a sermos submissos a ela, então, os dois tipos de autoridade não podem (biblicamente) estar em oposição.

Um dos aspectos inegáveis da unidade e da unicidade na Bíblia é a advertência constante (especialmente nos escritos de São Paulo) contra (e proibindo) as divisões, cismas e o sectarismo, seja por proferimentos ou por maus exemplos (Mateus 12.25, 16.18, João 10.16, 17.20-23, Atos 4.32, Romanos 13.13, 16.17, 1 Coríntios 1.10-13, 3.3-4, 10.17, 11.18-19, 12.12-27, 14.33, 2 Coríntios 12.20, Gálatas 5.19-21, Efésios 4.3-6, Filipenses 1.27, 2.2-3, 1 Timóteo 6.3-5, Tito 3.9-10, Tiago 3.16, 2 Pedro 2.1). Isto, claramente, não é algo periférico. Mesmo Nosso Senhor faz da unidade um meio pelo qual o mundo poderia crer que o Pai mandou o Seu Filho (João 17.21,23) e ora para que ela seja tão profunda como a própria unidade encontrada na Trindade (João 17.21-22). São Paulo faz da provocação de divisão um possível motivo para exclusão da comunidade cristã (Romanos 16.17) e diz que as divisões (já vigentes naqueles tempos) dividem a Cristo (1 Coríntios 1.13). Este sempre tem sido um dos pontos fortes da posição católica contra o Protestantismo e os próprios protestantes estão cada vez mais preocupados com aquilo que eles consideram ser uma escandalosa associação entre o denominacionalismo e o sectarismo, que todos concordam que é condenado nas Escrituras.

Uma das motivações sinceras e aparentemente razoáveis para a formação de uma nova seita é o desejo de apartar-se de pecadores e do pecado, que pode infectar os outros. A Bíblia, contudo, claramente ensina que a Igreja (especialmente no seu sentido institucional) é composta tanto por santos quanto por pecadores, por bons e por ruins. Vemos isto de maneira indiscutível em várias parábolas de Jesus sobre o Reino dos Céus (isto é, a Igreja), tais como a parábola do joio e do trigo, em que Jesus afirma que eles crescerão juntos até o Juízo Final ou até os últimos tempos (Mateus 13.24-30; cf. Mateus 3.12). Ele compara a Igreja a uma rede de pesca que captura peixes bons e ruins, que serão separados posteriormente (Mateus 13.47-50), e a um banquete de casamento, no qual um convidado foi retirado para as trevas (Mateus 22.1-14). Esta parábola termina com uma famosa frase: "muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”, o que poderia ser interpretado como a distinção entre cristãos mornos, mortos ou nominais e aqueles realmente eleitos que serão salvos no final. Ambos estão presentes na Igreja de acordo com Jesus. Um estado de coisas semelhante pode ser visto nas parábolas das dez virgens (Mateus 25.1-13) e dos talentos (Mateus 25.14-30) e a descrição de Jesus dos cristãos e da Igreja como uma cidade edificada sobre um monte (Mateus 5.14, cf. 5.15-16) é uma referência óbvia à visibilidade da Igreja. De nenhum modo, esta cidade pode ser vista como sendo invisível.

Jesus escolheu Judas como Seu discípulo, mesmo conhecendo o futuro, e ele era verdadeiramente um apóstolo (Mateus 10.1,4; Marcos 3.14; João 6.70-71; Atos 1.17). Da mesma forma, São Paulo, dirigindo-se aos anciãos (Atos 20.17), afirma que o próprio Espírito Santo fez deles bispos (RSV, guardiões; no Grego, "episkopos" --- Atos 20.28), mesmo que entre estes mesmos homens surgissem hereges e cismáticos (Atos 20.30). Este pensamento tem ecos no versículo que se assemelha a uma parábola em 2 Timóteo 2.20 (veja também 2.15-19).

Os protestantes costumam citar a analogia de Jesus da ovelha e do pastor (João 10.1-16; cf. 2 Timóteo 2.19; 1 João 2.19) que se reconhecem (10.14) como evidência de que a Igreja consiste apenas dos eleitos. No entanto, a analogia é desfeita quando também encontramos nas Escrituras aplicações do termo "ovelha" a reprovados não salvos (Salmo 74.1), a perdidos (Salmo 119.176), a Israel como uma nação (Ezequiel 34.2-3, 13, 23, 30) e, de fato, a todos os homens (Isaías 53.6).

Outras passagens pressupõem uma Igreja visível, identificável e “concreta”, como Mateus 18.15-17, em que os crentes são exortados por Nosso Senhor a trazer irmãos errantes e obstinados à Igreja, que, então, determinará para eles um veredito apropriado. Isto seria contrário ao teor do Novo Testamento se fosse uma referência apenas a uma igreja local --- tal cenário iria conduzir-nos a conseqüências totalmente avessas à prática (em que o pecador, simplesmente, freqüentaria outra denominação e seguiria em frente com a sua vida, como ocorre, tragicamente, em muitos casos no dia de hoje

São Paulo, ainda, em 1 Timóteo 3.15, descreve a “Igreja do Deus vivo” como sendo um “pilar e baluarte da verdade”. Esta declaração não faz o menor sentido no contexto de denominações que competem entre si e que, muitas vezes, são contraditórias entre si. Onde um religioso sincero, desinformado e sem qualquer sofisticação encontraria essa verdade? Apenas em um contexto doutrinal em que houvesse real visibilidade e unicidade de doutrina esse versículo pode ter qualquer possibilidade de aplicação prática.

Também é um equívoco tratar São Paulo como se ele fosse algum tipo de “cavaleiro solitário” espiritual, que estivesse por sua própria conta sem qualquer lealdade eclesiástica particular, uma vez que ele foi comissionado pelo próprio Jesus como um apóstolo. Na sua experiência de conversão, Jesus disse a Paulo que ele seria informado acerca do que deveria fazer (Atos 9.6; cf. 9.17). Ele foi ver São Pedro em Jerusalém por quinze dias para ser confirmado em seu chamado (Gálatas 1.18) e, catorze dias depois, ele foi comissionado por Pedro, Tiago e João (Gálatas 2.1-2, 9). Ele também foi enviado à igreja de Antioquia (Atos 13.1-4), que estava em contato com a igreja de Jerusalém (Atos 11.19-27). Mais tarde, Paulo reportou-se de volta a Antioquia (Atos 14.26-28).

O Novo Testamento refere-se, basicamente, a três tipos de ofícios permanentes na Igreja (apóstolos e profetas não existiriam mais): bispos ("episkopos"), anciãos ("presbyteros", dos quais derivam os presbíteros e padres), e diáconos ("diakonos"). Os bispos são mencionados em Atos 1.20, 20.28; Filipenses 1.1; 1 Timóteo 3.1-2; Tito 1.7 e 1 Pedro 2.25. Os presbíteros (por vezes, "anciãos") aparecem em passagens como Atos 15.2-6, 21.18, Hebreus 11.2, 1 Pedro 5.1 e 1 Timóteo 5.17. Os protestantes vêem estes líderes como sendo análogos aos correntes pastores dos dias de hoje, enquanto os católicos vêem-nos como sacerdotes. Os diáconos (por vezes, "ministros" em algumas traduções inglesas) são mencionados de maneira semelhante como sendo cristãos anciãos com freqüência similar (por exemplo, 1 Coríntios 3.5; Filipenses 1.1; 1 Tessalonicenses 3.2; 1 Timóteo 3.8-13).

Como freqüentemente costuma ser o caso na teologia e na prática entre os primeiros cristãos, existe alguma fluidez e sobreposição entre as três vocações (por exemplo, compare Atos 20.17 com 20.28; 1 Timóteo 3.1-7 com Tito 1.5-9). Isto, entretanto, não prova que os três ofícios de ministros não existam. Por exemplo, São Paulo, freqüentemente, refere a si mesmo como sendo um diácono ou ministro (1 Coríntios 3.5, 4.1; 2 Coríntios 3.6, 6.4, 11.23; Efésios 3.7, Colossenses 1.23-25), ainda que ninguém afirme que ele era meramente um diácono e nada mais além disto. De modo semelhante, São Pedro chamam a si mesmo como sendo um membro ancião (1 Pedro 5.1), muito embora Jesus chame-o de rocha sobre a qual Ele construiria a Sua Igreja e dê somente a ele as “chaves do Reino dos Céus” (Mateus 16.18-19). Estes exemplos são usualmente indicativos de uma humildade saudável em concordância com as injunções de Cristo sobre a servidão (Mateus 23.11-12; Marcos 10.43-44).

Após observação mais atenta, claras distinções acerca do ofício surgem e a natureza hierárquica de governo da Igreja no Novo Testamento emerge. Os bispos são sempre referidos no singular, enquanto os anciãos são geralmente tratados no plural. A primeira controvérsia entre os cristãos tem a ver com a natureza e com as funções tanto de bispos como dos anciãos (os diáconos têm, amplamente, os mesmos deveres tanto entre protestantes quanto entre os católicos).

Os católicos alegam que os anciãos/presbíteros, nas Escrituras, realizam todas as funções de um sacerdote católico:.

1) são enviados e comissionados por Jesus (a noção de ser chamado): Marcos 6.7; João 15.5, 20.21; Romanos 10.15; 2 Coríntios 5.20;

2) são representantes de Jesus: Lucas 10.16; João 13.20;

3) têm autoridade para ‘ligar’ e ‘desligar’ (Penitência e Absolvição): Mateus 18.18 (compare com Mateus 16.19)

4) têm poder para perdoar os pecados no nome de Jesus: Lucas 24.47; João 20.21-23; 2 Coríntios 2.5-11; Tiago 5.15;

5) têm autoridade para administrar a Penitência: Atos 5.2-11; 1 Coríntios 5.3-13; 2 Coríntios 5.18; 1 Timóteo 1.18-20; Tito 3.10;

6) têm poder de conduzir a Eucaristia: Lucas 22.19; Atos 2.42 (compare com Lucas 24.35; Atos 2.46, 20.7; 1 Coríntios 10.16);

7) ministram Sacramentos: 1 Coríntios 4.1; Tiago 5.13-15;

8) realizam batismos: Mateus 28.19; Atos 2.38,41

9) são ordenados: Atos 14.23; 1 Timóteo 4.14; 5.23

10) pastoreiam: Atos 20.17,28; Efésios 4.11; 1 Pedro 5.1-4

11) pregam e ensinam: 1 Timóteo 3.1-2, 5.17.

12) evangelizam: Mateus 16.15, 28:19-20; Marcos 3.14; Lucas 9.2, 6, 24.47; Atos 1.8;

13) curam: Mateus 10.1; Lucas 9.1-2,6;

14) expulsam demônios: Mateus 10.1; Marcos 3.15; Lucas 9.1;

15) ouvem confissões: Atos 19.18 (compare com Mateus 3.6; Marcos 1.5; Tiago 5.16; 1 João 1.8-9; pressuposto em João 20.23);

16) vivem o celibato se chamados a isto: Mateus 19.12; 1 Coríntios 7.7-9,20,25-38 (especialmente 7.35);

17) desfrutam da presença perpétua de Cristo e de Sua assistência de um modo especial: Mateus 28.20.

Os protestantes — seguindo Lutero — citam 1 Pedro 2.5,9 (veja, também, Apocalipse 1.6) a fim de provar que todos os cristãos são sacerdotes. Isto, entretanto, não exclui a existência de alguém que seja especialmente ordenado, que receba um ordenamento sacramental, uma vez que São Pedro estava reproduzindo a linguagem de Êxodo 19.6, onde os judeus foram descritos dessa forma. Uma vez que os judeus tinham um sacerdócio levítico separado, por analogia, 1 Pedro 2.9 não pode, logicamente, excluir um sacerdócio ordenado neotestamentário. Estes textos estão preocupados com a santidade sacerdotal, em oposição à função sacerdotal. Em sentido universal, por exemplo, nunca se referem à Eucaristia ou aos Sacramentos. Cada cristão é um pastor em termos da oferta de sacrifícios de oração (Hebreus 13.15), de esmolas (Hebreus 13.16) e da fé em Jesus (Filipenses 2.17).

Os Bispos ("episkopos") têm todos os poderes, deveres e jurisdição dos padres, com as seguintes importantes responsabilidades que se seguem:

1) jurisdição sobre os padres e as igrejas locais e o poder de ordenar padres: Atos 14.22; 1 Timóteo 5.22; 2 Timóteo 1.6; Tito 1.5;

2) responsabilidade especial em defender a fé: Atos 20.28-31; 2 Timóteo 4.1-5; Tito 1.9-10; 2 Pedro 3.15-16;

3) poder para repreender falsas doutrinas e para excomungar: Atos 8.14-24; 1 Coríntios 16.22; 1 Timóteo 5.20; 2 Timóteo 4.2; Tito 1.10-11;

4) poder para conceder a Confirmação (o recebimento da habitação do Espírito Santo): Atos 8.14-17, 19.5-6;

5) gestão das finanças da Igreja: 1 Timóteo 3.3-4; 1 Pedro 5.2.

Na Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento), "episkopos" é usado para denotar vários sentidos, como, por exemplo: oficiais (Juízes 9.28, Isaías 60.17), supervisores de fundos (2 Crônicas 34.12,17), superintendentes de sacerdotes e de levitas (Neemias 11.9; 2 Reis 11.18) e aqueles que tinham funções no templo e relacionadas ao tabernáculo (Números 4.16). Deus é chamado de "episkopos" em Jó 20.29, referindo-se ao Seu papel como Juiz e Cristo é um "episkopos" em 1 Pedro 2.25 (RSV: "pastor e guardião de nossas almas").

O Concílio de Jerusalém (Atos 15.1-29) dá testemunho de uma estrutura de governo episcopal hierárquica definitiva na Igreja primitiva. São Pedro, o chefe mais velho (o ofício de Papa) da Igreja inteira (1 Pedro 5.1; cf. João 21.15-17), presidiu e emitiu o pronunciamento autoritativo (15.7-11). Então, Tiago, Bispo de Jerusalém (como uma espécie de prefeito anfitrião da conferência) dá a sua anuência (Atos 15.14) com um proferimento conclusivo (15.13-29). Que Tiago era o único Bispo "monárquico" de Jerusalém é bastante evidente nas Escrituras (Atos 12.17, 15.13,19,21.18; Gálatas 1.19,2.12). Este fato é, também, atestado pelo primeiro historiador cristão Eusébio (História da Igreja, 7:19).

Muita evidência histórica e patrística também existe para o bispado de São Pedro em Roma. Ninguém contesta o fato de que São Clemente (101 d.C.) foi o único Bispo de Roma um pouco mais tarde, ou que Santo Inácio (110 d.C.) foi o Bispo de Antioquia, começado por volta de 69 d.C. . Então, o Bispo "monárquico" é tanto um conceito bíblico quanto um fato indiscutível na Igreja primitiva. No momento em que chegamos a meados do segundo século, praticamente todos os historiadores sustentam que cada um dos bispos lidera cada comunidade cristã. Isto deveria ser o caso em toda a cristandade, no Ocidente e no Oriente, até que Lutero delegou este poder aos príncipes seculares no século 16 e a tradição anabatista evitou um ofício eclesiástico completamente ou em grande parte. Hoje, muitas denominações não têm nenhum bispo de qualquer natureza.

Pode-se admitir tudo o que acabamos de mencionar como sendo verdadeiro, mas ainda se negando a sucessão apostólica, por meio da qual esses ofícios são transmitidos, ou legados, ao longo de gerações e de séculos, por meio da Sagrada Tradição. Esta crença, entretanto, da Igreja Católica (juntamente com a Ortodoxia Oriental e com o Anglicanismo) é também baseada nas Escrituras:

São Paulo ensina-nos (Efésios 2.20) que a Igreja é construída sob a fundação dos apóstolos, a quem o próprio Cristo escolheu (João 6.70; Atos 1.2,13; cf. Mateus 16.18). Em Marcos 6.30, os doze discípulos originais de Jesus são chamados apóstolos e Mateus 10.1-5 e Apocalipse 21.14 falam dos doze apóstolos. Depois que Judas desertou, os onze apóstolos remanescentes indicaram o seu sucessor, Matias (Atos 1.20-26). Uma vez que Judas é chamado de Bispo ("episkopos") nessa passagem (1.20), então, por expansão lógica, todos os apóstolos podem ser considerados Bispos (embora sejam de um tipo extraordinário).



Se os apóstolos são Bispos, e um deles foi substituído por outro, após a morte, ressurreição e ascensão de Cristo, nós temos, então, um exemplo explícito de uma sucessão apostólica na Bíblia, que se deu antes de 35 d.C. . De modo semelhante, São Paulo parece passar o seu ofício a Timóteo (2 Timóteo 4.1-6), pouco antes de sua morte, por volta de 65 d.C. . Esta sucessão mostra uma equivalência autoritativa entre os apóstolos e Bispos, que são sucessores dos apóstolos. Como um corolário, somos, também, informados nas Escrituras de que a Igreja, em si mesma, é perpétua, infalível e indefectível (Mateus 16.18; João 14-26; 16.18). Por que a Igreja primitiva seria configurada de uma forma e a Igreja tardia de outra maneira?

Toda essa informação bíblica está em harmonia com as visões eclesiológicas da Igreja Católica. Houve algum desenvolvimento ao longo dos séculos, mas, em todas as essências, a Igreja bíblica e o Clero e a Igreja Católica e o Clero são uma só coisa.

A evidência histórica dos primeiros cristãos depois dos apóstolos e dos Pais da Igreja é totalmente cogente também: existe consenso praticamente unânime quanto à natureza episcopal, hierárquica e visível da Igreja, que procede com autoridade, ao longo da história, em virtude da Sucessão Apostólica.

São Clemente, Bispo de Roma (101 d.C.), ensina a sucessão apostólica por volta de 80 d.C. ("Epístola aos Coríntios", 42:4-5, 44.1:3) e Santo Irineu é um testemunho muito forte e advogado dessa tradição nas duas últimas décadas do segundo século ("Contra as Heresias", 3:3:1,4,4:26:2,5:20:1,33:8). Eusébio, o primeiro historiador da Igreja, na sua "História da Igreja", c. 325, começa dizendo que uma das "principais questões" a serem tratadas na sua obra é a questão das "linhas de sucessão dos santos apóstolos..." (tr. G. A. Williamson, Baltimore: penguin Books, 1965, 31).

No tocante ao triplo ministério dos Bispos, padres (anciãos/presbíteros) e diáconos, Santo Inácio, Bispo de Antioquia, oferece-nos um memorável testemunho por volta do ano 110 ("Letter to the Magnesians", 2, 6:1, 13:1-2, "Letter do the Trallians", 2:1-3, 3:1-2, 7:2, "Letter do the Philadelphians", 7:1-2, "Letter to the Smyrnaeans", 8:1-2 — a última também é a primeira referência à "Igreja Católica"). São Clemente de Roma refere-se ao “Sumo Padre” e aos “padres” dos cristãos por volta de 96 (1 Clement, 40). Outro preeminente testemunho primitivo inclui Santo Hipólito (Tradição Apostólica, 9) e São Clemente de Alexandria (Stromateis, 6:13:107:2), ambos no início do terceiro século.

Mesmo João Calvino, contrariamente a muitos dos seus seguidores mais recentes, ensinou que a Igreja era visível e uma "Mãe" (Institutas da Religião Cristã, IV,1,1;IV,1,4;IV,1,13-14), que despreza o erro do sectarismo e do cisma (IV,1,5;IV,1,10-15), e que a Igreja inclui pecadores e hipócritas (IV,1,7;IV,1,13-15 — ele cita Mateus 13.24-30,47-58). Sua diferença com os católicos aqui é que ele define a Igreja visível como sua própria igreja reformada.

Tradutor:
Fábio Salgado de Carvalho


Fonte: http://www.catholicfidelity.com/apologetics-topics/church/the-visible-hierarchial-and-apostolic-church-by-dave-armstrong/

sábado, 20 de agosto de 2016

Uma rápida refutação do "Sola Scriptura" em dez passos


Uma rápida refutação do "Sola Scriptura" em dez passos.

(Dave Armstrong)

1. O "Sola Scriptura" não é ensinado na Bíblia

Os católicos concordam com os protestantes que a Escritura é um "padrão para a verdade" --- até mesmo o mais preeminente ---, mas não em um sentido de que ela exclua a autoridade de uma autêntica Tradição e de uma Igreja. A Bíblia não ensina isso. Os católicos concordam que a Escritura é suficiente materialmente. Em outras palavras, nesta visão, toda doutrina verdadeira pode ser encontrada na Bíblia, mesmo que o seja implicitamente e indiretamente por dedução. Nenhuma passagem bíblica, entretanto, ensina que a Escritura é a autoridade formal ou a norma de fé isoladamente da Igreja e da Tradição. O "Sola Scriptura" não pode sequer ser deduzido de passagens implícitas.

2. A "Palavra de Deus" refere-se ao ensino oral também

"Palavra", na Sagrada Escritura, muitas vezes, refere-se a um ensino oral proclamado por profetas ou por apóstolos. O que os profetas disseram era a Palavra de Deus independentemente de se os seus proferimentos foram registrados mais tarde como Escritura escrita. Assim, por exemplo, lemos em Jeremias:

"Durante vinte e três anos a palavra do Senhor tem vindo a mim [...] E eu a tenho anunciado a vocês, dia após dia [...] Mas vocês não me deram ouvidos [...], declara o Senhor. Portanto, assim diz o Senhor dos Exércitos: 'Visto que vocês não ouviram as minhas palavras [...]" (Jr. 25.3, 7-8 [NVI])

Esta foi a palavra de Deus mesmo que algumas delas não tenham sido registradas por escrito. Ela tinha a mesma autoridade que um escrito enquanto proclamação que nunca foi reduzida à escrita. Isto era verdadeiro também para a pregação apostólica. Quando as frases "Palavra de Deus" ou "Palavra do Senhor" aparecem em Atos e nas epístolas, elas quase sempre se referiam à pregação oral, não à Escritura. Por exemplo:

"[...] ao receberem de nossa parte a palavra de Deus, vocês a aceitaram, não como palavra de homens, mas conforme ela verdadeiramente é, como palavra de Deus [...]" (1 Ts. 2.13).

Se compararmos esta passagem com outra, escrita para a mesma igreja, Paulo parece tomar o ensino oral e a Palavra de Deus como sinônimos:

"[...] nós lhes ordenamos que se afastem de todo irmão que vive ociosamente e não conforme a tradição que vocês receberam de nós." (2 Ts. 3.6).

3. "Tradição" não é uma palavra indecente

Os protestantes, muitas vezes, citam os versículos da Bíblia em que as tradições corruptas dos homens são condenadas (e. g. , Mt. 15.2-6; Mc. 7.8-13; Cl. 2.8). Obviamente, católicos concordam com isso. Não se trata, entretanto, da verdade completa. A verdadeira Tradição apostólica é aprovada positivamente. Esta Tradição está em total harmonia e consistência com a Escritura. Neste sentido, a Escritura é a "juíza última" da Tradição, mas não descarta toda a Tradição e autoridade da Igreja (cf. At. 2.42; 1 Cor. 11.2; 2 Ts. 2.15; 2 Tm. 1.13-14, 2.2)

4. Jesus e Paulo aceitam Tradições escritas ou orais que não estejam registradas na Bíblia

a. A referência a "Ele será chamado Nazareno" não pode ser encontrada no Antigo Testamento, mas foi "dita pelos profetas" (Mt. 2.23). Esta profecia, portanto, que é considerada como sendo "Palavra de Deus", foi transmitida oralmente em vez de ser registrada na Escritura.

b. Em Mateus 23.2-3, Jesus ensina-nos que os escribas e fariseus têm uma legítima autoridade baseada na "cátedra de Moisés", mas esta frase ou idéia não pode ser encontrada em qualquer lugar do Antigo Testamento. Ela é encontrada na (originalmente oral) "Mishnah", que ensina uma espécie de "sucessão de ensino" de Moisés em diante.

c. Em 1 Coríntios 10.4, Paulo refere-se à rocha que "seguia" os judeus ao longo do deserto do Sinai. O Antigo Testamento afirma nada sobre tal movimento miraculoso, mas a tradição rabínica sim.

d. "Como Janes e Jambres opuseram-se a Moisés" (2 Tm. 3.8). Estes dois homens não podem ser encontrados na passagem correlata no Antigo Testamento (cf. Êx. 7:. 8ss) ou em qualquer outro lugar do Antigo Testamento.

5. Os apóstolos exerceram autoridade no Concílio de Jerusalém

No Concílio de Jerusalém (At. 15.6-30), vemos Pedro e Tiago falando com autoridade. Este Concílio profere um pronunciamento autoritativo (mencionando o Espírito Santo) que se tornou obrigatório para todo cristão:

"Pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não impor a vocês nada além das seguintes exigências necessárias: Que se abstenham de comida sacrificada aos ídolos, do sangue, da carne de animais estrangulados e da imoralidade sexual. Vocês farão bem em evitar essas coisas." (At. 15.28-29).

No próximo capítulo, lemos que Paulo, Timóteo e Silas viajaram "pelas cidades" e a Escritura diz que eles "transmitiam as decisões tomadas pelos apóstolos e presbíteros em Jerusalém, para que fossem obedecidas." (At. 16.4).

6. Fariseus, saduceus e a Tradição oral extrabíblica

O Cristianismo foi derivado de muitas maneiras da tradição farisaica do Judaísmo. Os saduceus, por outro lado, rejeitaram a futura ressurreição da alma, a vida após a morte, as recompensas e retribuições, demônios e anjos e a predestinação. Os saduceus, também, rejeitaram todo ensino oral autoritativo e, essencialmente, criam no "Sola Scriptura". Eles eram os teólogos liberais de seu tempo. Os cristãos fariseus são mencionados em Atos 15.5 e em Filipenses 3.5, mas a Bíblia nunca menciona cristãos saduceus.

Os fariseus, apesar de suas corrupções e excessos, foram a principal tradição judaica e tanto Jesus como Paulo reconhecem isto. Desse modo, nem os judeus ortodoxos do Antigo Testamento e nem a Igreja primitiva foram guiados pelo princípio do "Sola Scriptura".

7. Os judeus do Antigo Testamento não criam no "Sola Scriptura"

Para dar dois exemplos do próprio Antigo Testamento:

a. Esdras, um sacerdote e escriba, estudou a lei judaica e ensinou-a a Israel e a desobediência à sua autoridade significava pena de prisão, exílio, perda de bens e até mesmo a morte (cf. Ed. 7.26).

b. Em Neemias 8.3, Esdras lê a Lei de Moisés para o povo em Jerusalém. No verso 7, encontramos treze levitas que assistiram a Esdras e que ajudaram o povo a compreender a Lei. Muito antes, encontramos levitas exercendo a mesma função (cf. 2 Cr. 17.8-9)

Desse modo, o povo, de fato, compreendia a Lei (cf. Ne. 8.8, 12), mas não sem muita assistência, meramente a ouvindo. Da mesma forma, a Bíblia não é totalmente clara em si mesma, mas requer ajuda de professores que estão mais familiarizados com os estilos bíblicos, com o Hebraico, com os antecedentes, com o contexto, com a exegese, com a referência cruzada entre os livros, com os princípios hermenêuticos, com as línguas originais etc. . O Antigo Testamento, então, ensina-nos acerca de uma Tradição e precisa de intérpretes autoritativos, assim como o Novo Testamento (cf. Mc. 4.33-34; At. 8.30-31; 2 Pe. 1.20, 3.16).

8. Efésios 4 refuta o "texto-prova" protestante

"Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra." (2 Tm. 3.16-17).

Esta passagem não ensina a suficiência formal, que exclui um papel de autoridade para a Tradição e a Igreja. Os protestantes extrapolam para o texto algo que não está nele. Se olharmos o contexto geral dessa passagem, podemos ver que Paulo faz referência à Tradição oral três vezes (cf. 2 Tm. 1.13-14, 2.2, 3.14). Para fazermos uso de uma analogia, examinemos uma passagem similar:

"E ele designou alguns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas, e outros para pastores e mestres, com o fim de preparar os santos para a obra do ministério, para que o corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo. O propósito é que não sejamos mais como crianças, levados de um lado para outro pelas ondas, nem jogados para cá e para lá por todo vento de doutrina e pela astúcia e esperteza de homens que induzem ao erro. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo." (Ef. 4.11-15).

Se 2 Timóteo 3 prova a suficiência da Escritura, então, por analogia, Efésios 4, semelhantemente, provaria a suficiência dos pastores e mestres para a produção da perfeição cristã. Em Efésios 4, o crente cristão é equipado, edificado e trazido à unidade e à idade madura, e até mesmo preservado da confusão doutrinária por meio da função de ensino da Igreja. Esta é uma declaração muito mais forte de aperfeiçoamento dos Santos que aquela de 2 Timóteo 3, ainda que não haja qualquer menção da Escritura.

Então, se todos os elementos não escriturísticos são exclusos em 2 Timóteo, então, por analogia, a Escritura, logicamente, teria de estar exclusa em Efésios. É muito mais razoável reconhecer que a ausência de um ou mais elementos na passagem não significa que eles não existem. A Igreja e a Escritura são ambas igualmente necessárias e importantes para o ensino.

9. Paulo, eventualmente, assume que a Tradição que lhe foi transmitida é infalível e autoritativa

"Se alguém desobedecer ao que dizemos nesta carta, marquem-no e não se associem com ele, para que se sinta envergonhado" (2 Ts. 3.14)

"Recomendo-lhes, irmãos, que tomem cuidado com aqueles que causam divisões e colocam obstáculos ao ensino que vocês têm recebido" (Rm. 16.17)

Ele não escreveu sobre "a bastante, em grande parte, amplamente verdadeira, mas não infalível, doutrina que lhes tem sido ensinada.".

10. O "Sola Scriptura" é um posicionamento circular

Quando tudo já está dito e feito, os protestantes aceitam o "Sola Scriptura" como sua regra de fé recorrendo à Bíblia. Se a eles fosse perguntado por que alguém deveria acreditar no ensino da sua denominação em particular em detrimento de outro, cada um apelaria à "clareza do ensino da Bíblia". Muitas vezes, eles agem como se não houvesse qualquer tradição que guiasse a sua interpretação.

Isso se assemelha a pessoas que estivessem em lados diferentes de um debate constitucional em que ambas dissessem: "Bem, nós seguimos aquilo que a Constituição afirma, mas vocês não.". A Constituição dos Estados Unidos, assim como a Bíblia, não é suficiente em si e por si mesma para resolver querelas sobre diferentes interpretações. Juízes e cortes são necessários e os seus decretos são legalmente autoritativos. As decisões da Suprema Corte não podem ser anuladas, a não ser por decisões futuras ou por emendas constitucionais. Em qualquer caso, existe sempre um parecer final que resolve a questão.

O Protestantismo, entretanto, prescinde disso porque ele apela a um princípio logicamente autodestrutivo e a um livro que deve ser interpretado por seres humanos. Obviamente, dadas as divisões no Protestantismo, simplesmente, "ir para a Bíblia" não tem funcionado. Eles podem, eles mesmos, "ir para a Bíblia" apenas e talvez retornar com outra versão doutrinária de alguma doutrina posta em questão para adicionar à sua lista. Ou você acredita que há uma verdade em qualquer disputa teológica dada (seja ela qual for) ou você adota uma posição relativista e indiferente em que contradições são aceitas ou em que a doutrina é tão "secundária" que não importa.

A Bíblia, entretanto, não ensina que existam categorias inteiras de doutrinas que são "secundárias" e que os cristãos podem, livremente, e alegremente, discordar dessa forma. O denominacionalismo e as divisões são vigorosamente condenadas. A única conclusão a que podemos chegar a partir da Bíblia é que aquilo que chamamos de "o tripé que sustenta um banco" --- Bíblia, Igreja e Tradição --- é aquilo que é necessário para que cheguemos à verdade. Se você bater em qualquer uma das pernas de um banco de três pernas, ele colapsa.

[Tradução: Fábio Salgado de Carvalho. Texto original: https://www.catholicculture.org/culture/library/view.cfm?recnum=7185]

Como Calvino me fez católico



'Calvino jovem' (Biblioteca de Genebra)

Testemunho de David Anders para o Called to Communion

Tradução de João Marcos – Associação São Próspero

UMA VEZ OUVI um pastor pregar um sermão sobre “História da Igreja”. Ele começou com Cristo e os Apóstolos, passou pelo livro dos Atos, saltou da Idade Média católica diretamente para a Reforma Protestante em 1517. De Lutero, ele foi até o avivalista britânico John Wesley, atravessou o Atlântico com os avivalistas americanos até chegar à sua própria igreja, em Birmingham, Alabama, no início dos anos 1990. Aplausos e louvores sucederam sua pregação. A congregação amou.

Eu também amei a pregação. Cresci numa igreja evangélica nos anos 1970, imerso no mito da Reforma. Eu tinha certeza que minha igreja pregava o Evangelho, que ela recebeu inalterado dos Reformadores. Depois da faculdade, obtive um doutorado em História da Igreja, o que me permitiu provar aos pobres católicos que eles estavam na Igreja errada.

Nunca pensei que o meu próprio fundador, o Reformador João Calvino, me levaria à Igreja Católica.

Eu fui criado presbiteriano, uma igreja que se orgulha das suas origens calvinistas, mas eu não me importava muito com denominações. Minha igreja praticava uma espiritualidade bíblica (sic) semelhante à da maioria das igrejas evangélicas. Na faculdade cristã e no seminário encontrei a mesma atitude. Batistas, presbiterianos, episcopais e carismáticos adoravam e estudavam lado à lado, todos apegados à Bíblia mas em desacordo quanto à forma de interpretá-la. No entanto, nossas diferenças não nos preocupavam. Diferenças sobre os Sacramentos, organização da Igreja e autoridade eram menos importantes para nós do que a relação pessoal com Cristo e a luta contra a Igreja Católica. É assim que compreendíamos a nossa dívida com a Reforma.

Após o seminário, comecei um Ph.D em História da Reforma. Meu foco era João Calvino (1509-1564), o reformador francês que transformou Genebra, na Suíça, no modelo de cidade protestante. Escolhi Calvino não apenas pelo meu passado presbiteriano, mas porque a maioria dos protestantes americanos têm alguma relação com ele. Os puritanos ingleses, os Pais Peregrinos, Jonathan Edwards e o “Grande Avivamento”[1] – todos, fundamentados em Calvino, influenciaram profundamente a religiosidade americana. Meus professores descreviam Calvino como um grande teólogo; nosso teólogo. Eu pensava que se dominasse Calvino, eu conheceria realmente a fé.

Para minha decepção, dominar Calvino não me levou a nenhum lugar que eu esperava. Para começar, eu descobri que não gostava dele. Conheci um homem arrogante, julgador e inflexível. Mais importante, Calvino destruiu minha visão evangélica da História. Eu sempre assumi como verdade a perfeita continuidade entre a Igreja Primitiva, a Reforma e a minha igreja. No entanto, quanto mais eu estudava Calvino, mais estranho ele me parecia, muito diferente dos protestantes de hoje. Isto me levou a questionar toda a narrativa evangélica: Igreja Primitiva – Reforma – Cristianismo Evangélico. E se os "evangélicos" se desviaram de Calvino e da Reforma? O fio da história se rompeu. E se ele se rompeu uma vez, entre a Reforma e hoje, por que não teria se rompido antes, entre a Igreja Primitiva e a Reforma? Será que o fio da história evangélica chegou tão longe?

Calvino me chocou por rejeitar elementos-chave da minha tradição evangélica. A espiritualidade de nascido de novo, interpretação privada da Bíblia, uma abordagem acolhedora às outras denominações... – Calvino se opôs a tudo isso. Descobri que suas preocupações eram muito diferentes, muito mais institucionais, quase católicas. Apesar dele rejeitar a autoridade de Roma, existiam elementos da fé católica que ele nunca pensou em abandonar. Ele assumia como certo que a Igreja deveria ter uma única autoridade interpretativa, uma liturgia sacramental e uma fé unificada.

Estas descobertas me deixaram com importantes questões à mente. Por que Calvino deu tanta importância a essas “coisas católicas”? Ele estava certo em dar tanta importância a elas? Em caso positivo, ele estaria certo em abandonar a Igreja Católica? O que essas descobertas me ensinavam sobre o Protestantismo? Como minha igreja podia chamar Calvino de "fundador" estando tão longe dos seus ensinamentos? Será que toda a teologia protestante estava destinada à confusão?

Entendendo a Reforma Calvipenista

Calvino foi um reformador da 2ª geração, 26 anos mais novo que Martinho Lutero (1483-1546). Isso significa que já na sua época a Reforma se havia dividido em facções. Na sua terra natal, a França, não havia apoio do rei ao Protestantismo e nem liderança unificada. Advogados, humanistas, intelectuais, artistas e artesãos liam os escritos de Lutero, junto com a Bíblia, e adaptavam o que lhes agradava [na confusão que é um típico fruto da tese do livre exame, e que permanece até hoje].

Essa variedade marcou Calvino como o caminho certo para o desastre. Ele era advogado e sempre odiou qualquer forma de desordem social. Em 1549, escreveu um pequeno tratado (Advertissement contre l’astrologie) no qual aborda essa diversidade protestante:

“Cada estado [de vida] tem seu próprio evangelho, que eles fabricam para si mesmos de acordo com seus apetites, de forma que há tanta diferença entre o evangelho da corte, o evangelho dos juízes e advogados e o evangelho dos mercadores, como há entre as moedas de diferentes regiões."

Comecei a ter dificuldades com as diferenças entre Calvino e seus descendentes quando descobri seu horror à diversidade teológica. Calvino foi formado na teologia de Lutero, mas ele se incomodava com a “multidão grosseira” e a “plebe vulgar” que transformou a doutrina de Lutero numa desculpa para desordem. Ele escreveu o seu primeiro grande trabalho, "As Institutas da Religião Cristã" (1536), em parte para tratar desse problema.

Calvino teve a chance de botar seus planos em prática quando se mudou para Genebra, Suíça. Ele começou a participar da Reforma em Genebra em 1537, quando fazia pouco tempo que a cidade havia abraçado o Protestantismo. Calvino, que já havia começado a escrever sobre teologia, estava insatisfeito com as medidas tomadas pela cidade. Genebra aboliu a Missa, expulsou o clero católico e professou lealdade à Bíblia, mas Calvino queria mais. Seu primeiro pedido ao Conselho da Cidade foi que ele impusesse uma confissão comum de fé (escrita por ele mesmo), forçando todos os cidadãos a professá-la.

A mais importante contribuição de Calvino a Genebra foi a criação do Consistório – um tipo de corte eclesiástica – para julgar a pureza moral e teológica dos cidadãos. Ele também persuadiu o conselho a implementar um conjunto de “Decretos Eclesiásticos” que definiam a autoridade da igreja, estabelecia as obrigações religiosas dos leigos e impunha uma liturgia oficial. O comparecimento à igreja era obrigatório. Contrariar os ministros era crime de blasfêmia. As Institutas de Calvino foram declaradas a doutrina oficial.

O maior objetivo de Calvino era obter o poder de excomungar fiéis “indignos”. O conselho da cidade lhe deu esse poder em 1555, quando a imigração francesa e escândalos locais deixaram o eleitorado a seu favor. Calvino utilizou-se desse poder frequentemente. De acordo com o historiador William Monter, de cada 15 cidadãos um foi intimado a comparecer perante o Consistório entre 1559-1569, e 1 em cada 25 foi excomungado[2]. Calvino utilizou esse poder para implementar sua visão de Cristianismo único e punir dissidentes.

Um Calvinista descobre João Calvino


Eu estudei Calvino durante anos antes que o significado real do meu aprendizado viesse à tona. Então, finalmente, percebi que Calvino, com sua paixão pela ordem e autoridade, estava do lado oposto ao espírito individualista da minha tradição evangélica. Nada deixou isso mais claro para mim do que sua luta contra o ex-monge carmelita Jerome Bolsec.




Jérôme Hermès Bolsec


Em 1551, Bolsec, convertido ao Protestantismo, entrou em Genebra e ouviu uma aula sobre teologia. O tópico era a doutrina calvinista da predestinação, que dizia que Deus predeterminava o destino eterno de cada alma. Bolsec, que acreditava firmemente no Sola Scriptura (Só a Escritura) e no Sola Fide (Só a Fé), não gostou do que ouviu. Ele pensou que essa doutrina fazia de Deus um tirano. Quando desafiou a doutrina de Calvino, foi aprisionado.


O que torna o caso Bolsec interessante é que ele rapidamente evoluiu para uma disputa sobre a autoridade da igreja e a interpretação da Bíblia. Bolsec, da mesma forma que muitos "evangélicos" de hoje, argumentou que ele era cristão, que ele tinha o Espírito Santo e, consequentemente, tinha tanto direito quanto Calvino de interpretar a Bíblia. Ele prometeu se retratar caso Calvino provasse sua doutrina apenas pela Bíblia. Mas Calvino não fez isso. Ele ridicularizou Bolsec chamando-o de agitador (Bolsec desfrutava de grande simpatia do público), rejeitou seu apelo à Bíblia e determinou que o conselho agisse com dureza. Ele escreveu a uma amiga que desejava ver Bolsec “apodrecer numa vala”[3].


O que a maioria dos "evangélicos" de hoje não sabem é que Calvino nunca defendeu a interpretação privada (ou laica) da Bíblia. Enquanto rejeitava a autoridade de Roma, ele arrogou essa autoridade a si mesmo(!). Ensinou que os “pastores reformados” eram sucessores dos profetas e apóstolos, com autoridade para interpretar a Bíblia. Insistiu que os leigos deveriam suspender o julgamento em matérias difíceis e “manter-se unidos com a igreja”4.


Calvino levou muito a sério a obrigação de submissão e obediência dos leigos. Contrariar os ministros era uma das razões mais comuns de ser intimado ao Consistório e as penas podiam ser severas. Há uma imagem em particular na minha mente: abril de 1546. Pierre Ameaux, cidadão de Genebra, foi forçado a rastejar até a porta da residência do bispo, com sua cabeça descoberta e uma tocha em sua mão. Ele suplicou o perdão de Deus, dos ministros e do conselho da cidade. Seu crime? Ele se opôs ao ensino de Calvino. O conselho, graças aos apelos de Calvino, decretou a humilhação pública de Ameaux.


Ameaux não foi o único. Nas décadas de 1540 e 1550, o Conselho condenou vários que se opunham aos ministros ou à sua teologia. Além disso, quando Calvino obteve o direito de excomungar, ele não hesitou em utilizá-lo contra essa “blasfêmia”. Os “evangélicos” atuais, desacostumados com a excomunhão, podem subestimar a severidade desta pena, mas Calvino a compreendia em seus termos mais severos. Ele ensinou várias vezes que os excomungados estavam “distantes da Igreja e, consequentemente, de Cristo”[5].


Se as ideias calvinistas sobre a autoridade da igreja foram uma surpresa, seus pensamentos sobre os sacramentos foram um choque. Diferente dos “evangélicos” de hoje, que tratam a teologia dos sacramentos como algo secundário, Calvino ensinou que eles eram da maior importância. De fato, ele ensinou que um correto entendimento da Eucaristia era necessário para a salvação. Esta era a tese do seu primeiro tratado teológico em francês ('Petit traicté de la Sainte Cène', 1541). Frustrado pela discórdia protestante sobre a Eucaristia, Calvino escreveu o texto numa tentativa de unificar o movimento em torno de uma única doutrina.


Evangélicos costumam confiar na sua “relação pessoal com Cristo”, e não na filiação a alguma igreja ou na participação em algum ritual. Calvino, no entanto, ensina que a Eucaristia dá “garantia indiscutível da vida eterna”[6]. E apesar dele não chegar ao entendimento católico, ou mesmo luterano, da Eucaristia, ele ainda reteve a doutrina da Presença Real. Ele ensinou que a Eucaristia concede uma “verdadeira e substancial participação no Corpo e Sangue do Senhor” e rejeitou a noção de que os comungantes recebem “apenas o Espírito, omitindo a Carne e o Sangue”[7].


Calvino entendia o Batismo da mesma forma. Ele nunca ensinou a doutrina evangélica de que alguém “nasce de novo” apenas através da conversão pessoal. Pelo contrário, ele associou a regeneração com o Batismo e ensinou que negá-lo era negar a salvação. Ele também não permitiu diversidade no modo de receber o Batismo. Os anabatistas de Genebra (que batizavam adultos) foram presos e forçados a pedir perdão. Calvino ensinou que os anabatistas, ao negar o sacramento às suas crianças, colocam-se fora da fé.


Uma vez, Calvino persuadiu um anabatista chamado Herman a entrar na Igreja Reformada. Sua descrição do evento não deixa dúvida sobre a diferença entre Calvino e o “evangélico” moderno. Calvino escreve:



“Herman retornou, se não estou enganado, de boa fé à amizade da Igreja. Ele confessou que fora da Igreja não há salvação, e que a verdadeira Igreja está conosco. Consequentemente, ele era um desertor enquanto permaneceu numa seita separada da Igreja.” [8]


Os “evangélicos” atuais não entendem mais essa linguagem. Eles se acostumaram a tratar “a Igreja” apenas como uma realidade espiritual, somente representada através das denominações ou em qualquer lugar onde se reúnam os “verdadeiros crentes”. Esta não é a visão de Calvino. A sua visão é a da “verdadeira Igreja” marcada pelo Batismo infantil, fora da qual não há salvação.



Entendendo o Evangelicalismo


Estudar Calvino me fez levantar questões importantes sobre a minha identidade evangélica. Como eu poderia tratar como “assuntos sem importância” questões que meu próprio fundador considerou essenciais? Eu considerei “sem importância” o Batismo e a Eucaristia, e a própria Igreja como algo “meramente simbólico”, “puramente espiritual” ou, em último caso, desnecessário. No seminário também encontrei um ambiente onde os professores discordavam em todo assunto e ninguém se importava! Sem nenhuma instância superior para apelar, nós permanecemos numa teologia do “mínimo denominador comum”.


A História da Igreja, porém, me ensinou que essa atitude é recente. João Calvino tinha grandes expectativas pela unidade e catolicidade da fé, e pela centralidade da Igreja e dos sacramentos. Mas mesmo o Calvinismo não conseguiu fazer isso. Fora de Genebra, sem a força do Estado para impor uma versão, o próprio calvinismo se dividiu em facções. No seu livro "Orthodoxies in Massachussetts: Rereading American Puritanism", a historiadora Janice Knight detalha como este processo começou logo no início do calvinismo americano[9].


Não surpreende saber que, no século 18, líderes calvinistas dos dois lados do Atlântico desistiram da busca pela unidade. A nova abordagem era enfatizar a experiência subjetiva do “novo nascimento” (em si mesma uma doutrina nova, de origem puritana) como única preocupação necessária. O famoso avivalista George Whitefield tipificou essa visão, chegando ao ponto de insistir que Cristo não queria a concordância em outros assuntos. Ele disse: "Era melhor pregar o novo nascimento, e o poder da religiosidade, e não insistir muito na forma: porque as pessoas nunca pensarão o mesmo sobre isso; nem Jesus Cristo pretendeu isso"[10].


Desde o século 18, o Calvinismo foi reduzindo-se mais e mais a um pequeno conjunto de questões sobre a natureza da salvação. Tanto é assim que, para a maioria das pessoas, a palavra Calvinismo significa apenas a doutrina da predestinação. O próprio Calvino tornou-se apenas um símbolo, um mito que os "evangélicos" utilizam apenas para apoiar suas alegações de continuidade histórica.


A grande ironia da minha pesquisa foi constatar que o Evangelicalismo, longe de ser o herdeiro direto de Calvino, na verdade representa a falência do Calvinismo. Enquanto Calvino dedicou sua vida à busca pela unidade doutrinal, o evangelicalismo moderno está enraizado na negação dessa busca. O historiador Alister McGrath nota que o termo “evangélico”, que existiu na Cristandade por séculos, assumiu seu sentido moderno apenas no século 20, com a fundação da Associação Nacional dos Evangélicos (1942). Esta sociedade foi criada para permitir a ação pública coordenada entre grupos que concordavam apenas com o “novo nascimento”, mas discordavam em todo o resto [11].


Um calvinista descobre o Catolicismo


Eu cresci acreditando que o evangelicalismo era “fé que uma vez foi dada aos santos”[12]. Aprendi pelo estudo da história protestante que essa fé dificilmente era mais antiga que Whitefield, e certamente não era a mesma fé dos Reformadores. O que fazer? Retornar ao século 16 e viver como um autêntico calvinista? Eu já sabia que o próprio Calvino, com toda a sua insistência em unidade e autoridade, não teve êxito. Seus próprios seguidores acabaram em anarquia e individualismo.


Então percebi que Calvino era parte do problema. Ele insistiu na importância da unidade e autoridade, mas rejeitou qualquer base racional para essa autoridade. Ele sabia que a Bíblia totalmente sozinha, interpretada por cada consciência individual, era uma receita do desastre. Mas a sua própria autoridade (de Calvino) era totalmente arbitrária. Sempre que era desafiado, ele apelava à sua própria consciência ou à sua experiência subjetiva, mas ele negava esse direito a Bolsec e outros. Como resultado, Calvino se tornou orgulhoso e severo, brutal com seus inimigos, intolerante. Em todo o meu estudo sobre Calvino, eu não me lembro de ele pedir desculpas ou admitir erros uma única vez.


Eventualmente, constatei que a atitude de Calvino contrastava com a atitude dos maiores teólogos católicos. Vários deles eram santos, reconhecidos por sua caridade heroica e humildade. Além do mais, eu sabia pelos seus escritos, especialmente de Sto. Tomás de Aquino, Sta. Catarina de Siena, Sta. Teresa de Ávila e S. Francisco de Sales, que eles negavam qualquer autoridade pessoal para definir doutrina. Eles se curvaram voluntariamente, até alegremente, à autoridade do Papa e dos concílios. Eles podiam manter o ideal bíblico de unidade doutrinária (1Cor 1,10) sem afirmarem ser a fonte dessa unidade.


Estes santos também desafiaram o estereótipo de católicos que eu tinha. "Evangélicos" frequentemente assumem que são eles os únicos que têm uma “relação pessoal com Cristo”. Católicos, com seus rituais e instituições, são supostamente alienados de Cristo e da Bíblia. Apesar disso, encontrei (nos santos) homens e mulheres totalmente focados em Cristo e inebriados com sua Graça.


O teólogo católico que teve o maior impacto em mim foi, sem dúvida, Sto. Agostinho (354-430). Em toda a minha vida, ouvi que a Igreja primitiva era protestante e evangélica. Meus professores do seminário e até mesmo Calvino e Lutero sempre apontavam para Sto. Agostinho como seu grande herói da Igreja Primitiva. Quando eu finalmente pesquisei Agostinho, no entanto, descobri o Catolicismo completo. Agostinho amava a Bíblia e falou profundamente sobre a Graça de Deus, mas ele os compreendia no sentido católico. Ele destruiu o que restava da minha visão evangélica da história.


No fim, eu vi que cada coisa boa do Evangelicalismo já estava presente na Igreja Católica – a devoção calorosa à espiritualidade evangélica, o amor pela Bíblia e até mesmo, em certo ponto, a tolerância evangélica à diversidade. O Catolicismo sempre tolerou escolas de pensamento, várias teologias e liturgias diferentes. Mas, ao contrário do Evangelicalismo, a Igreja Católica possuía uma maneira lógica e consistente de distinguir entre o essencial e o não-essencial. O Magistério da Igreja, estabelecido por Cristo (Mt 16,18; 28,18-20), era a fonte daquela unidade que Calvino queria substituir.


Uma das coisas mais agradáveis da minha descoberta da Igreja Católica é que ela satisfaz plenamente meu desejo por raízes históricas. Eu comecei a estudar História acreditando na continuidade da fé e tentando desesperadamente encontrá-la. Até mesmo quando eu pensei encontrá-la na Reforma, eu ainda devia lidar com o enorme período da Idade Média, católica. Agora, graças ao que Calvino me ensinou, não existem mais pontas soltas. Em 16 de novembro de 2003, finalmente abracei a “fé que uma vez foi dada aos santos”. Eu entrei na Igreja Católica.

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Notas:

1. N.T.: os 'Avivamentos' ou 'Despertamentos' eram períodos de grande expansão evangélica nos EUA e Reino Unido. Um pouco da sua história pode ser encontrada em:
http://www.mackenzie.br/7080.html

2. 'The Consistory of Geneva, 1559-1569',Bibliothèque d’Humanisme et Renaissance 38 (1976): 467-484

3. Carta à Madame de Cany, 1552

4. 'Institutes of the Christian Religion', ed. J. T. McNeill, trans. Ford Lewis Battles. Philadelphia: Westminster Press, 1960: 3.2.3, 4.3.4

5. Institutas 4.12.9

6. Institutas 4.17.32

7. Institutas 4.17.17; 4.17.19

8. 'Letters of John Calvin', trans. M. Gilchrist, ed. J.Bonnet, New York: Burt Franklin, 1972, I: 110-111

9. Cambridge: Harvard University Press, 1994

10. Citado em Mark A. Noll, 'The Rise of Evangelicalism: The Age of Edwards, Whitefield and the Wesleys'. Downers Grove: IVP, 2003, 14

11. 'Evangelicalism and the Future of Christianity'. Downers Grove, IL: InterVarsity Press, 1995, 17-23.

12. N.T.: Judas 1,3

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Fonte:

Called to Communion, 'How John Calvin Made me a Catholic', disp. em
http://www.calledtocommunion.com/2010/06/how-john-calvin-made-me-a-catholic/
Acesso 27/6/016www.ofielcatolico.com.br

Henrique Sebastião

Os motivos que o levaram à conversão



Se um cego guiar outro cego... (Mt 15,14)


Eu, que por muitos anos frequentei igrejas evangélicas de diversas denominações, e por muito tempo fui enganado e explorado pelos seus pastores, dedico este testemunho a todos aqueles que se declaram "ex-católicos", sem nunca terem sido católicos de fato, mas sobem aos púlpitos protestantes-"evangélicos", que eles, por pura ignorância, chamam de "altar", para induzirem ao erro seus irmãos mais ingênuos (Se não há sacrifício não é e nem pode ser altar: só existe Altar na Igreja Católica).

Não creio que um dia tenham sido católicos os que depõem seus falsos testemunhos dizendo que encontraram a salvação em alguma "igreja evangélica", porque os verdadeiros católicos já encontraram Jesus e a Salvação na Igreja que ele mesmo nos deu, e não podem abandonar a Comunhão com Deus, seu Criador e Salvador, a não ser que nunca tenham comungado, de fato, com o Senhor Jesus Cristo.

Enumero abaixo as 32 principais razões porque deixei o protestantismo e retornei à primeira e única Igreja de Jesus Cristo. Espero sinceramente, com isto, poder salvar alguma alma do erro e da perdição eterna.


1) Princípio "só a Bíblia" (Sola Scriptura)

Nada mais falso do que esse princípio. Os cristãos do primeiro século não dispunham de Bíblia. E nem os cristãos dos séculos seguintes. Na verdade, os cristãos só puderam contar com a Bíblia para consulta, como hoje, muitos anos depois da invenção da imprensa, que só aconteceu no ano de 1455. Então, será que o Senhor Jesus esperaria mais de um século e meio para revlelar sua verdadeira doutrina para o mundo? Se assim fosse, Ele teria mentido, pois disse antes de partir para o martírio que estaria com a sua Igreja até o fim do mundo (conf. Mateus 28, 19-20).

Além disso, para que a Bíblia fosse a única fonte de revelação, seria no mínimo necessário que ela mesmo se proclamasse assim; e não é o caso, pelo contrário. A Bíblia diz que a Igreja é a coluna e o sustentáculo da verdade (1 Tim 3, 15), e não as Escrituras. Nela, Jesus Cristo diz ainda:"Vocês examinam as Escrituras, buscando nelas a vida eterna. Pois elas testemunham de Mim, e vocês não querem vir a Mim, para que tenham a Vida!" (João 5, 39-40).

Sim, a Bíblia diz que as Escrituras são úteis para instruir, mas nunca diz, em versículo algum, que somente as Escrituras instruem, ou que só o que as Escrituras dizem é que vale como base para a fé. Isso é uma invenção humana sem nenhum fundamento. E a Bíblia também diz que devemos guardar a Tradição (conf. 2 Tessalonicenses 2, 15 e 2 Tessalonicenses 3, 6, entre outros). Contrariando a Bíblia, os "evangélicos" rejeitam a Tradição.

2) Princípio "Só a fé salva"
A mesma Bíblia ensina que a fé sem obras é morta, na Epístola de Tiago (2, 14-26). A mesma Bíblia ensina que o cristão deve perseverar até o fim para ser salvo (Mt 24, 13). E ainda acrescenta que seremos julgados, todos, por nossas ações boas ou más. Existem várias passagens que dão conta de um julgamento futuro e, sendo assim, é falso que alguém aqui na terra já esteja salvo só porque "aceitou Jesus". Não basta ir à frente de uma assembleia e dizer"Aceito Jesus como meu Senhor e Salvador"para ganhar o Céu. Não, não. É preciso muito mais do que isso. Conversão não é da boca para fora: é preciso que cada um tome a sua cruz e siga o Senhor, que, aliás, nunca prometeu prosperidade para quem o seguisse.

Portanto, é totalmente mentirosa a afirmação de que basta ter fé para ser salvo. Ora, os demônios também crêem (Tiago 2, 19)...

3) Lutero
Foi Martinho Lutero quem começou com as "igrejas" protestantes, que deram origem às "igrejas evangélicas" de hoje. Mas o que ele pensava é seguido apenas em parte pelos "evangélicos" de hoje. Eles seguem somente os princípios “Só a Bíblia” e “Só a Fé”. Mas Lutero é o fundador de todas as igrejas evangélicas que existem hoje, então por que não são todos luteranos? Na verdade, isso seria bem menos pior...
Por outro lado, se reconhecem que Lutero é um homem falível, como é possível a um "evangélico" ter tanta certeza de que os princípios que ele inventou sejam dignos de confiança absoluta? Mais do que o que ensina a única Igreja que tem 2.000 anos e foi instituída diretamente por Jesus Cristo? - Mais: o próprio Lutero contestou o Papa e decretou que não se deve confiar num sacerdote. Mas ele mesmo era um ex-sacerdote católico. Então, se ele mesmo se descarta como pessoa confiável, quem é tolo o suficiente para dar crédito ao que ele disse ou escreveu?

4) Subjetivismo religoso I
Uma denominação evangélica não é igual a outra em matéria de fé. Isso é fato:

Umas batizam crianças, outras não;

Umas admitem o divórcio, outras o repudiam;

Umas aceitam mulheres como "pastoras", outras não;

Umas praticam a "santa ceia", outras não;

Umas ensinam que devemos guardar o sábado, outras não;

Algumas ensinam a teologia da prosperidade, outras a repudiam;

Por aí vai... Tem "bispo evangélico" por aí defendendo até o aborto, só porque a Igreja Católica é (claro) contra! É comum ouvimos frases como estas: “Nesta 'igreja' está o verdadeiro caminho”, ou “Deus levantou este ministério" ou ainda "a tua vitória está aqui”. Mais comum ainda é os "pastores" dizerem que as igrejas deles são "ungidas"... Ora, se todas essas igrejas ditas "evangélicas" são tão diferentes entre si, e a Verdade é uma só, como é possível um "evangélico" ter certeza que está na caminho certo, ou que o seu "pastor" está pregando a "Verdade", se existem tantos outros "pastores" (que também dizem seguir a Bíblia e afirmam que são "ungidos") que discordam dele?

5) Subjetivismo religioso II

Cada "crente" pode interpretar a Bíblia do jeito que quiser, segundo a tese protestante de Lutero. Mas todos nós sabemos que um "crente" não concorda com outro em todas as coisas. Muitas vezes divergem entre si mais do que convergem. Se cada qual interpreta a Bíblia do seu jeito, e nem poderia ser diferente. Então, como é possível um "evangélico" ter a certeza de que está certo na sua interpretação? E por quê, meu Deus, por quê apenas a interpretação da Igreja Católica é que está totalmente errada, em tudo? Essa é a mais cruel de todas as incoerências das "igrejas" ditas "evangélicas": praticamente todas elas se reservam a criticar umas às outras, mas todas são unânimes em criticar a Igreja Católica! O mais incrível é não perceberem que, agindo assim, estão cumprindo as profecias bíblicas do próprio Senhor Jesus Cristo: "Sereis odiados de todos por causa do meu Nome" (Lucas 21, 17); "Bem aventurados sereis quando, mentindo, disserem toda espécie de mal contra vós, por amor ao meu Nome" (Mateus 5, 11-12)...

Os pastores se ajoelham e se prostram diante de réplicas da Arca da Antiga Aliança, mas eles não chamam esses pastores de "idólatras". Só os católicos são chamados assim. Eles idolatram até lencinhos embebidos no suor do falso profeta Valdemiro, mas eles não acham que isso é idolatria... Em algumas denominações, acontece a distribuição de lembrancinhas, sabonetinhos para espantar "olho gordo", vidrinhos de óleo "ungido", "rosas consagradas", etc, etc... Mas nada disso, para eles, é idolatria. Somente os católicos é que são idólatras. Todos pensam assim, porque todos sofreram a mesma lavagem cerebral, que é muito difícil de reverter.
6) Subjetivismo religioso III

A interpretação pessoal da Bíblia por cada "crente" e "pastor" afronta claramente a Bíblia. De acordo com a santa Palavra de Deus, interpretação alguma é de caráter individual. Examinar a Bíblia não é o mesmo que interpretá-la. Posso examinar uma pessoa e lhe informar que encontrei uma mancha na sua pele. Mas o diagnóstico deve ser feito pelo médico, e não por mim, que sou leigo.


7) "Igreja não importa" e "igreja não salva"...

Todo "crente" diz em alto e bom som: “Igreja não salva ninguém”. Ora, se igreja não salva ninguém e cada um pode interpretar a Bíblia pessoalmente, para quê frequentar alguma denominação? Quando ocorre algum escândalo envolvendo algum "pastor", o crente também diz: “Olha para Jesus e não para o pregador”. Mas se o pregador ensina tolices e princípios contrários ao verdadeiro cristianismo, por que eu deveria ouvir o que ele diz? Não é possível "olhar para Jesus" assim. Pelo contrário, isso só vai colocar em risco a minha alma! Se cada crente pode interpretar pessoalmente a Bíblia, se "igreja" não salva ninguém e o pastor não é confiável (ele é só um homem falível), então por que os "evangélicos" continuam dando tanto crédito aos pregadores?


8) Evangelização

E se cada um de fato pode interpretar a Bíblia a partir da sua leitura pessoal, que conta com a assistência do Espírito Santo, por que ao invés de pregar não se imprime Bíblias e se distribui à população? Ora, se basta ter fé para ser salvo e se cada um pode ser o próprio intérprete da Bíblia, para que servem as denominações, os cultos, os "pastores", as pregações, livros, CDs e DVDs? Ao invés dos milhões em dízimos e ofertas, que sustentam toda uma estrutura que é desnecessária (afinal todos os que creram estão salvos), por que não reunir esses recursos e construir gráficas e mais gráficas para a impressão de Bíblias e distribuí-las para todos aqueles que não conhecem Jesus?

Eu digo porquê: porque os "pastores" se encarregam de passar a sua interpretação pessoal da Bíblia aos ingênuos que os seguem. E essa interpretação é deturpada e não tem nada a ver com a Mensagem original nos Evangelhos. Os "evangélicos" pensam que entendem a Bíblia, mas na verdade tudo o que eles conhecem é a interpretação pessoal deste ou daquele "pastor".

Se nem o pregador é digno de confiança, razão pela qual o crente deve confrontar o seu entendimento pessoal da Palavra com a pregação do palestrante, por que razão alguém deveria dar crédito a um desconhecido que lhe vem falar como porta-voz de Jesus?

9) Interpretação bíblica

Agora, se cada um pode interpretar a Bíblia e se todas as interpretações estão corretas, mesmo que sejam todas diferentes entre si, por quê só a interpretação católica está errada? A Bíblia só pode ser interpretada se a pessoa está sob o rótulo de "evangélico"? Nesse caso, o que salva não é a fé, é o rótulo. E se for assim, ao contrário do que eles afirmam, a placa da igreja ou o rótulo de "evangélico" é que salva.

Pela visão protestante, milhares e milhares de denominações estão corretas nas suas interpretações bíblicas, mesmo que sejam diferentes entre si. Todas elas estão certas e apenas uma está errada, que seria a Igreja Católica. Justamente a primeira igreja que existiu é que não conta com a assistência do Espírito Santo. Nesse caso, Jesus mentiu quando disse que os portais do inferno não prevaleceriam contra a Igreja (Mat 16, 18) pois o inferno teria triunfado contra a Igreja Católica, e também quando disse que estaria com a sua Igreja até o fim do mundo: ele só se faz presente para quem carrega o rótulo de "evangélico"...

10) O Pai Nosso
A oração é bíblica. Foi ensinada pelo Senhor Jesus. O "evangélico" a repudia. Por quê? Para não parecer católico. O "crente" jura defender a Bíblia, mas é o primeiro a não obedecê-la. Ele decidiu que não irá recitar o Pai Nosso e fim de papo. E pior. Quem o faz está errado, ainda que esteja obedecendo à Bíblia. O crente se acha melhor do que Jesus. Jesus fez a oração do Pai Nosso, mas o "evangélico" não tem que fazê-la.


11) Maria

Isabel, que ficou cheia do Espírito Santo com a visita de Maria, chamou-a de "mãe do meu Senhor". O crente a chama de "mulher como outra qualquer". Isabel recebeu o Espírito S com a chegada de Maria, grávida de Jesus Cristo, Deus Todo-Poderoso. O "evangélico" fica cheio de ira quando se menciona o nome de Maria. João Batista estremece no ventre de Isabel ao ouvir a voz de Maria. O crente se enfurece quando ouve o nome Maria. A Bíblia diz que Maria será chamada de bem aventurada por toda as gerações. O crente a chama de mulher pecadora como qualquer outra.

O protestante rasga os Textos Sagrados. E jura defender a Bíblia. Seguem o que querem e desprezam o que não lhes interessa.

12) Confissão

A Bíblia é clara: aos Apóstolos foi dado o poder de reter e perdoar pecados (Lucas 20, 21-23). Como é possível reter ou perdoar se alguém não lhes confessa? Desnecessário falar mais a respeito.

13) Fundação de novas "igrejas"

A Bíblia não faz qualquer referência à milhares de “igrejas” diferentes e separadas, mundo afora. Mas para fundarem suas denominações, os "evangélicos" não fazem questão da tal da base bíblica de que tanto falam. A Bíblia diz que devemos ser um só corpo. Eles fazem o contrário. Dividem-se, subdividem-se, de novo e de novo. Se uma igreja não etá agradando, procuram outra mais ao seu gosto, e os mais espertos fundam as suas próprias igrejas, do jeito que acham mais certo (ou do jeito que dá mais lucro, em muitos casos), segundo sua própria interpretação da Bíblia. E todos dizem que estão sendo guiados por Deus. Existe um Deus ou muitos deuses? Se é um só Deus, como tantas igrejas podem ensinar coisas diferentes, e todas estão certas, menos a católica?

Eles fragmentam o Corpo e pulverizam a mensagem do Evangelho. Fazem o contrário do que o Senhor nos ordenou. Basta um crente discordar do outro, - e isso é a coisa mais fácil de acontecer, - que já surge uma nova denominação. Seus líderes podem ter “visões” para fundarem novas denominações. Somente as revelações católicas aprovadas pela Santa Igreja é que são refutadas.

O "crente" acredita no que deseja. E rejeita tudo que é católico. Sempre dois pesos e duas medidas. O pastor falou que teve uma visão e todo mundo engole. Nessa hora o “biblicamente” ou “a Palavra de Deus” não tem qualquer importância.

14) Julgamento dos homens

Embora Jesus Cristo nos ensine, - e insista muito nisso, - que não devemos julgar as pessoas, o que o "evangélico" mais faz é julgar os erros das pessoas católicas, especialmente quando dizem respeito aos sacerdotes. Mais uma vez a Bíblia é desprezada. E fazem pior: ao mesmo tempo em que são implacáveis com os católicos, são tolerantes com as outras "igrejas evangélicas". São muito, muito tolerantes para com os falsos profetas que se apoderam dos títulos de "bispo" e "pastor". Para falar desses verdadeiros picaretas, as expressões mais usadas são: “Não toca no ungido do Senhor”; “Ai de quem toca no santo do senhor”; “Não podemos julgar”; “Deixa que ele está fazendo a obra de Deus"... Como sempre, dois pesos e duas medidas.

15) A Doutrina da Trindade

Como disse no primeiro item, a maior falácia de todas é acreditar que só o que está escrito na Bíblia é que vale, por isso mesmo é que insisto em demonstrar a demonstrar a incoerência entre o que os "evangélicos" pregam e o que ensina a Bíblia. A Doutrina da Trindade, por exemplo, não está explícita na Bíblia. Mesmo assim, a grande maioria dos "evangélicos" a confessa. Só não sabem explicar o motivo. Se não é está dito clara e explicitamente na Bíblia deveria ser rejeitada por eles. E por que a maioria professa tal doutrina? Porque os Concílios Católicos assim definiram, e Lutero os acatou.

É sempre assim. Alguns "evangélicos", em alguns momentos, seguem Lutero, e outros, em alguns momentos, o rejeitam. Depende da conveniência de cada "crente", em cada situação. O Purgatório, outro exemplo, também está implícito na Bíblia, e a maioria deles rejeita. A Doutrina da Trindade está implícita na Bíblia e a maioria acata.

É sempre o que o "evangélico" quiser. Ele cria a sua doutrina a partir das escolhas que faz. Ele decide que textos da Bíblia irá seguir e quais deverão ser rejeitados. Ele escolhe o que quer seguir de Lutero, Calvino e Wesley. Ele junta tudo isso com sua própria interpretação individual e também filtra aquilo que vem de outros "crentes" e outros pregadores. Assim o protestante monta a sua própria religião, e, fazendo-se sábio aos seus próprios olhos, torna-se um apologista de sua própria doutrina.

16) Falta de união

Tudo que um "evangélico" menos gosta é de instrução. Então eles inventam "aulinhas" em suas congregações e chamam de "curso de teologia"... Mas eles não fazem a menor ideia do que essa palavra quer dizer. Hoje em dia, tem até curso para "formar pastor" em 3 meses! Você faz o cursinho e já está apto para assumir uma comunidade religiosa, que vai segui-lo cegamente. Um sacerdote católico precisa estudar em média 8 anos para assumir uma paróquia. Ele precisa se graduar em teologia, filosofia, vivenciar a experiência pastoral, ser testado psicologicamente, intelectualmente... E precisa saber ler a Bíblia nas l´pinguas em que foi escrita, hebraico e grego. E para ser pastor? Basta se declara "ungido" por Deus... E sempre tem quem acredita. E como tem!

Mas quando um "evangélico" não concorda com a doutrina da sua denominação ou do seu pastor ele logo vai atrás de outro vento. Quando contrariado, troca a sua denominação por outra, e não raras vezes funda a sua própria “igreja”. Divisão da divisão da divisão... e assim por diante.

17) Pedro

Todo protestante para contestar o catolicismo abraça a interpretação literal. No entanto, quando se refere a Primazia de Pedro, o "evangélico" vai buscar a deturpação em infinitas traduções e malabarismos de lógica para fazer a sua contestação. A interpretação que o crente vier a escolher é a que interessa. Se ele precisar usará o grego, o aramaico, o latim, hebraico, textos de Lutero, textos de Calvino, opiniões de outros pregadores, livros de autores protestantes e assim por diante. Tudo, menos abrir os olhos e simplesmente ler o que está escrito lá no Evangelho de Mateus (16, 18).

O importante é nunca concordar com o catolicismo e recusar que Jesus tenha firmado sua igreja sobre Pedro. Negam a Pedro e o poder que ele recebeu diretamente do próprio Senhor para ligar e desligar na terra. Negam que Jesus tenha lhe entregado as Chaves do Céu, e tudo o que isso implica. Nessa hora, pouco importa o texto bíblico. Os defensores da Bíblia literalmente a desprezam. E fica tudo bem, afinla, todos eles(as) são homens e mulheres de Deus. Só os católicos estão errados, os pastores e pastoras estão todos certos, certíssimos, até mesmo quando ensinam o contrário do que a Bíblia ensina. E continuam achando que seguem a Bíblia...18) Povo de Deus

Todo "evangélico" denomina a sua comunidade como o “Povo de Deus”. E por extensão, considera como pertencente a este mesmo "povo" todo e qualquer crente de outra denominação. Todos são irmãos em Cristo. Não importa que doutrina o outro "evangélico" prega ou pratica.

Não importa nem mesmo que ele não conheça o outro "evangélico" ou a sua denominação. Mas um bom católico, ainda que viva uma vida santificada, nunca é considerado “irmão em Cristo” ou “Povo de DEUS”. O que fala a Bíblia a respeito? “Todos aqueles que ouvem e praticam a Palavra de DEUS são meus irmãos e minha mãe” O que Jesus está nos dizendo? Todo aquele que ouve e obedece pertence a sua família. Ele não faz distinção de qualquer espécie. Nessa hora, o texto bíblico não tem a menor importância. O que importa é o desejo do crente e sua necessidade de definir quem está salvo e quem está condenado.

O crente não só despreza a Bíblia, como também toma o lugar de Jesus como Juiz Único e ainda antecipa o julgamento de todos os homens. Nem Lutero em seus melhores ou piores dias, ninguém sabe, seria capaz de produzir uma heresia tão deprimente.

19) Obras de Lutero

Alguém conhece um protestante que tenha lido alguma obra de Lutero? A maioria nem sabe quem foi Lutero. Sumiram todas as “obras” de Lutero. Também pudera. Foi Lutero quem chamou Jesus Cristo de bêbado e de adúltero (vide Tischeredden. Conversas à Mesa, 1472, edição de Weimar, volume II, p. 107, apud Franz Funck Brentano, Martim Lutero, editora Vecchi, Rio de Janeiro, 1956, p. 151). É de Lutero que os "evangélicos" copiam o “Só a Bíblia” e o “Só a fé”, mas a maioria deles nem sabe disso.

20) A Eucaristia e o Espírito Santo

O Senhor foi claro: seu Corpo éverdadeiramente Comida. Seu Sangue é verdadeiramente bebida (João 6, 55). Quem se alimenta da sua Carne e bebe do seu Sangue tem a Vida Eterna. Ele mesmo diz de si mesmo que é o Pão Vivo que desceu do Céu. Está na Bíblia. Mas como de costume, nessa hora, a Bíblia não importa.

Depreza-se o texto bíblico e tudo bem. Afinal, todos os "pastores" são "ungidos" e "profetas". Qualquer dorzinha que alivia na hora do culto e logo dizem que foi um milagre. Com imensa facilidade atribuem tudo o que se fala ou se faz, como pular ou cair no chão, como "obra do Espírito Santo"... Não sabem que a Bíblia diz que o único pecado que não tem perdão é a blasfêmia contra o Espírito Santo?


21) Reforma

Curiosidade: os "evangélicos" negam a Igreja Católica como sendo a Igreja original de Jesus Cristo. Mas então, se é assim, como é possível que esses mesmos "crentes" abracem a chamada "reforma" protestante?? Dizem que a Igreja Católica é falsa. Mas a reforma daquilo que é falso só pode resultar em algo igualmente falso. Se a Igreja Católica ensina mentiras, qualquer outra denominação que tenha derivado dela só pode ensinar igualmente mentiras. Se algo que nasceu de uma reforma é bom, isso implica que a fonte original era boa, mas precisava de uma reforma. Como pode a reforma de uma igreja falsa ser acatada como honesta?

E se a Igreja é falsa, falsos são também os seus fiéis, sacerdotes, ritos e tudo mais. Em última análise, seu Deus também deveria ser falso. E se os seus membros são falsos, entre os quais Lutero, como pode esse mesmo falso sacerdote e falso cristão ser considerado um "grande reformador"? Como pode a sua reforma de uma Igreja onde tudo é falso ser aceita como padrão de fé e modelo de cristianismo ?

Mas nada precisa fazer sentido no mundo dos "evangélicos". Para cada "crente", conta apenas o que ele quer entender e aceitar. Só vale o que o "pastor" fala no púlpito. Só vale o que os pastores interpretam da Bíblia. Extremos absurdo: eles nos acusam de acreditar que o Papa é infalível (o que é mentira), mas na verdade eles é que consideram seus pastores infalíveis! O que o pastor entende da Bíblia é inquestionável, é aceito por todos como a verdade absoluta e divina!

Existem até alguns menos esclarecidos chegam a dizer que foi Constantino que fundou a Igreja Católica(!). Mas nessa hora precisamos fazer justiça e reconhecer que uma estupidez desse tamanho nunca foi dita pelos antigos protestantes. Até hoje as igrejas protestantes históricas (luterana, calvinista, presbiteriana, etc.) reconhecem que a Igreja Católica é a Igreja instituída por Cristo sobre a Terra. e que se não fosse por ela nós nem teríamos a Bíblia, hoje.

Agora, se essa tolice fosse verdade, então os evangélicos estariam abraçando uma reforma da “Igreja de Constantino”!? Eles rejeitam a Igreja de “Constantino”, mas aceitam a sua reforma?? Seria engraçado, se não fosse triste...

22) Tradições

A Bíblia Sagrada nos orienta que guardemos as tradições.

"Então, irmãos, estai firmes e guardai a Tradição que vos foi ensinada, seja por palavras, seja por epístola nossa". (2 Tessalonicenses 2, 15)

"Mandamo-vos, porém, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que vos afasteis de todo o irmão que anda desordenadamente, e não segundo a Tradição que de nós recebeu." (2 Tessalonicenses 3, 6)

Mas os evangélicos renegam a Tradição. A pergunta que não quer calar: por que os evangélicos não guardam a Tradição, se a Bíblia orienta o contrário? No fundo no fundo, para eles pouco importa o que diz a Bíblia. Eles pensam que entendem de Bíblia, mas o que eles conhecem bem é a interpretação pessoal que o pastor faz da Bíblia. Aqueles que juram defender a Bíblia são os primeiros a contrariá-la, porque não a conhecem de fato.

23) Batismo de crianças

De onde os protestantes tiraram que a pessoa deve ser batizada somente depois da idade adulta? Alguns chegam a se comparar a Jesus Crito, dizendo que se Ele foi batizado depois de adulto, nós devemos fazer a mesma coisa!.. Como alguém consegue escutar um absurdo desses, sem chorar nem morrer de rir, é difícil entender! Meu Deus, Jesus Cristo é Deus, e foi Ele mesmo quem instituiu o Batismo! Além disso, o batismo que ele recebeu de João, como os próprios Evangelhos ensinam, não era o mesmo Batismo que Jesus ordenou à sua Igreja! Isso é tão óbvio que é difícil entender como podem se confundir a esse respeito! O Batismo que nós praticamos é outro. Além disso, Jesus carregou a sua Cruz e foi crucificado aos 33 anos. Se os "evangélicos" querem imitar Jesus tão fielmente, em tudo, porque não procuram fazer também o mesmo?

Mais uma vez, eles ignoram a Bíblia, pois ela não proíbe o Batismo das crianças, ao contrário: os Atos dos Apóstolos contam que muitas famílias inteiras foram batizadas pelos Apóstolos, e nós sabemos que todas as famílias judaicas tinham sempre muitas crianças, por uma questão justamente religiosa. Mesmo assim, o protestante prefere a interpretação dos "pastores" do que considerar o que diz a Bíblia.

Além disso, por que os "convertidos" devem ser batizado numa denominação "evangélica", mesmo que já tenham sido batizados na Igreja Católica? Quando um ex-protestante adere à Igreja Católica, na grande maioria das vezes não se exige um novo batismo. Por quê? Porque se alguém é batizado e com todas as palavras se diz no batismo que Jesus Cristo é o Senhor, como é possível ignorar a ação do Espírito Santo de forma que o mesmo batismo se torne inválido?

24) Unidade

Não fosse por fé ou por raciocínio intelectual, não fosse pelos fatos históricos que conheço ou simplesmente por questão de constatar inúmeros erros doutrinários nas milhares de denominações protestantes, a divisão e discórdia que há no meio já seria suficiente motivo para me afastar deles.

A Bíblia diz que devemos ser um só Corpo. Tudo que os "evangélicos" não querem é a união. Onde se vê "um só Batismo e uma só Fé" entre eles? Ao invés da determinação bíblica, existem mais de 50.000 denominações diferentes e divergentes entre si. A Bíblia diz que não deve haver divisão entre os cristãos. Qual dos protestantes nesse planeta leva em consideração esse texto bíblico? Mais uma vez jogam fora a Bíblia que juram defender.

25) A Bíblia é mais importante do que a Igreja?

Este é, disparado, o maior erro dos evangélicos. A Bíblia é filha da Igreja, e não a sua mãe. Foi a Igreja que escreveu a Bíblia, pouco a pouco. Os cristãos dos primeiros séculos não tinham Bíblia. É a igreja que dá credibilidade à Bíblia, e não o contrário. Acreditamos na Bíblia porque acreditamos na sua fonte. E a fonte da Bíblia Cristã é a Igreja Católica, por intermédio da qual Deus a entregou à humanidade: a Igreja Católica foi a responsável pela compilação, canonização e preservação dos textos. Quem não acredita na Igreja não deveria acreditar na Bíblia, que foi por ela produzida. Mera usurpação. Nem mesmo Lutero chegou a tal absurdo. Não é a Bíblia que define a Igreja ou que define o que Deus pode ou não fazer. A igreja é que definiu a Bíblia, por inspiração de Deus!

Mas dizer que Deus está preso à Bíblia e dela não pode “fugir” é algo escandalosamente mentiroso e blasfemo. Mas eu ouvi, pessoalmente, homens que se dizem pastores afirmando exatamente isso, que Deus não pode agir contra a Bíblia. Deus não conhece limitação de espécie alguma! A Bíblia é um instrumento, uma arma do cristão para ser usada no combate, e não uma regra imutável da qual nem Deus escapa. Dizer isto é blasfêmia! Acaso é o Criador menor do que a criatura? Aquele que chama todas as coisas a existência está preso às definições e interpretações das milhares de denominações ditas "evangélicas"? O que se vê por aí é a religião do livro. Bibliolatria pura.

A Bíblia é o ídolo de todos e o seus intérpretes que julgam-se sábios aos seus próprios olhos, tornando-se ídolos de si mesmos. A Igreja Católica não propõe a religião do livro, mas a Religião da Palavra Viva e Encarnada, o Verbo do Deus Vivo, Jesus Cristo, que se doa em Corpo, Alma e Divindade no Santíssimo Sacramento do Altar, o qual eles não conhecem e contra o qual blasfemam.

26) Intercessão

Inúmeras são as passagens bíblicas que falam sobre a intercessão de homens santos e anjos. Tudo ignorado pelos protestantes. No entanto não raras vezes uns oram pelos outros e mesmo chegam a pedir orações aos pregadores “ungidos” pelo Senhor. A Bíblia diz que muito vale a oração de um justo. Mas diz também que não há justo algum na terra. Sabendo que a Bíblia não é contraditória, de que justos estamos falando? Acaso aqueles que já foram julgados e muitos estão certamente entre os bons, são menores do que aqueles que ainda vivem por aqui?

Se nós, que somos injustos, podemos interceder uns pelos outros, muito mais podem aqueles que já estão na Glória Eterna.27) Sacrifício e Mediação

É intolerável afirmar que os católicos creem em outros mediadores além de Jesus. O Mediador para a nossa Salvação, entre Deus e nós, é Cristo, que com seu Sacrifício Eterno e eficaz nos resgatou na Cruz. Só Jesus, sendo Deus, se fez homem frágil e humilde, e suportou as piores dores e martírio e morte terríveis pela nossa salvação. É por isso que na Santa Missa oferecemos o Sacrifício do próprio Jesus Cristo a Deus Pai em expiação dos nossos pecados. Por isso nos alimentamos de Cristo na Sagrada Eucaristia.

Intercessão é outra coisa. Mediadores entre Jesus e os homens podem ser os nossos irmãos de fé ou os santos e anjos no Céu. A Santa Igreja, que segundo a Bíblia é a coluna e sustentáculo da Verdade (1 Timóteo 3, 15), recomenda.

28) Fé e Doutrina

O que é significa a expressão “coluna e sustentáculo da Verdade”? Significa que, sem a Igreja que Jesus deixou no mundo, a Verdade desmorona. Não somos capazes, por nossas próprias forças, de alcançar a Verdade Divina. E Deus mesmo designou a sua Igreja para nos auxiliar nesse processo. Mas tem gente por aí dizendo que Igreja não serve para nada. "Igreja não importa, importa é Jesus..." - Tá. Só tem um detalhe: foi o próprio Jesus quem nos deixou a sua Igreja Una, e disse que dependeríamos dela para encontrar o Caminho e para obter o perdão dos pecados. Mais uma vez isso está escrito lá, bem claro, na Bíblia... O problema é que, quando eles falam em "igreja", estão pensando numa empresa, que qualquer um pode fundar quando quiser, basta inventar um nome, registrar em cartório e abrir firma... Não entendem o profundo significado da Igreja Celeste, a qual Jesus fundamentou sobre o Apóstolo Pedro, o primeiro Papa

Ora, o Senhor Jesus foi claro ao dizer que as portas do inferno nunca prevaleceriam sobre a sua Igreja. Nunca significa jamais. Mas o "evangélico" não crê na promessa do filho de Deus. Para ele, o inferno prevaleceu sobre a Igreja Católica, que teria incorrido em “erros graves”. E foi preciso Lutero para corrigi-los. O que disse um homem é mais valorizado do que o que disse Jesus Cristo!

E agora são indispensáveis os atuais pregadores "evangélicos" que, mesmo divergindo entre si, estão todos certos e fazendo reparos na doutrina. Mas cada nova denominação introduz novidades, ritos e hábitos. E de Lutero ninguém lembra. Ora, ou Lutero acertou ou Lutero errou. Ou Deus levantou Lutero para corrigir os erros do catolicismo ou não levantou ninguém. E se Deus tivesse levantado Lutero, quem é o "evangélico" para continuar reformando aquilo que Deus já teria reformado? Para o "evangélico" Jesus mentiu. As portas do inferno prevaleceram "evangélico" sobre a sua Igreja e sobre o Cristianismo, por 1.500 anos, até nascer Lutero para restaurar a Verdade.

E se não fosse o “santo” Lutero, até hoje o cristianismo que se pratica por aí seria falso. Mas o "evangélico" não permaneceu com Lutero. E nem com Jesus. Conclusão: o "evangélico" amarrou uma pedra ao pescoço e lançou-se ao mar. Para ele, Jesus, depois do sofrimento atroz e do Sacrifício, deixou o homem por conta própria. Cada um interprete a Bíblia como puder. O "jesus" deles diz algo mais ou menos assim: “Virem-se. Leiam, interpretem, escolham uma denominação qualquer, porque igreja não importa. Eu deixei minha própria Igreja só de brincadeira, isso não faz a mínima diferença. Fundem igrejas novas se não gostarem de alguma denominação, contestem seus próximos, ofendam aquela que escolhi para ser minha mãe e odeiem os católicos... Assim vocês se salvarão”.

O Jesus em que nós cremos não é assim. Seu desejo é que nenhum de nós se perca. Por isso nos deu nossa Santa Mãe Igreja para nos apontar o Caminho, sem erro. Ele sabe que o coração humano é incerto e contestador. O Apóstolo Paulo confirma que nosso julgamento é sempre tendencioso. Por isso mesmo, Jesus prometeu que estaria com esta mesma Igreja até o fim dos tempos.

É sem dúvida infinitamente mais seguro ser católico.

E se alguém quiser criar um texto para responder "porque não sou católico", vou dar uma ajuda:

Por que alguém deixa de ser católico ?

Primeiro, ninguém deixa de ser católico. Os falsos católicos, aqueles que estão somente fazendo número no meio do Povo de Deus, deixam de frequentar a Igreja, quando se decepcionam com alguma coisa. E o fazem por arrogância, soberba e presunção. Me parece que a maioria o faz por ignorância, pura e simples. Alguém que não estuda nada sobre sua própria Igreja e religião.

Presumir que tudo sabe e não aceitar qualquer tipo de correção ou instrução é típico do "evangélico", e foi exatamente assim que a antiga serpente tentou o homem e a mulher: "vocês serão como Deus, conhecerão o Bem e o Mal por conta própria"... Ser um divisor por natureza já é motivo para fundar uma “igreja” e contestar aquela que Jesus institui sobre a Terra. 

terça-feira, 16 de agosto de 2016

ATOR DE STAR WARS CONTA SUA HISTÓRIA DE CONVERSÃO À IGREJA CATÓLICA


Alec Guinness ficou mundialmente conhecido por interpretar Ben Kenobi em “Guerra nas Estrelas”. O que poucos sabem é que o ator britânico era católico, não só de nome, mas por convicção.

Alec Guinness († 2000) é considerado um dos melhores atores do século XX, conhecido por sua habilidade em interpretar um amplo leque de personagens. Sua atuação como Hamlet no teatro de Londres foi largamente aclamada e ele granjeou sucesso internacional em seus filmes.

Em 1957, Guinness ganhou da academia um prêmio de melhor ator por sua performance em “A Ponte do Rio Kwai”. Dois anos mais tarde, ele foi condecorado com o título de cavaleiro da Ordem do Império Britânico pela Rainha Elizabeth II. Em 1962, fez o Príncipe Faiçal, em “Lawrence da Arábia” e, em 1977, ficou famoso por interpretar o personagem Ben Kenobi, em “Guerra nas Estrelas”.

Mesmo assim, em sua autobiografia Blessings in Disguise(Akadine Pr, 2001), Guinness quase dá maior destaque a sua conversão à Igreja Católica que ao sucesso de sua carreira artística.

Eis a história de sua conversão fora do comum.

Alec Guinness nasceu em Londres, em 1914, de Agnes Cuffe, uma mãe solteira que cuidou dele de maneira desordenada. Ela recusou-se a divulgar a identidade do seu pai e ele nunca descobriu por que o nome Guinness aparecia em sua certidão de nascimento. Aos seis anos de idade, frequentemente a criança era deixada sozinha por várias horas seguidas. Sua mãe entrou em um breve relacionamento com um homem brutal que era odiado e temido pelo jovem Alec. Ele só veio a livrar-se da miséria da pobreza e da negligência quando mandado à escola. Na adolescência, Guinness descobriu o encantamento pelo teatro.

Com 16 anos, ele foi confirmado na fé anglicana. Secretamente, porém, declarava-se ateu. “Certos acontecimentos ou palavras do Novo Testamento – ele escreveu – me moviam, de tempos em tempos, a algo próximo da fé, e eu, mesmo sendo um ignorante em teologia, mantinha um constante interesse por assuntos religiosos. Na maioria das vezes, porém, tudo cedia ao meu cinismo de adolescente.”

Esse “constante interesse por assuntos religiosos” levou o jovem Guinness a participar de cultos presbiterianos por um tempo, mas o entusiasmo não durou. Ele escreve em sua autobiografia nunca ter sequer passado pela sua mente a possibilidade de entrar em uma igreja católica. Sua “tolerância em relação aos católicos se limitava a uma visão simpática, mas condescendente”.

Guinness deixou a escola aos 18 e começou a trabalhar como redator para uma agência de publicidade. Já não pensava muito sobre religião, acreditando que tudo não passava de “um monte de lixo, um esquema maligno do establishmentpara manter o trabalhador em seu devido lugar”. Flertou com o comunismo, divulgando literatura marxista-leninista, participou de reuniões dosquakers, investigou o budismo e chegou a envolver-se com a tarologia.

Como a carreira de redator fracassasse, ele voltou ao teatro, realizando um sonho que tinha desde a infância. O sucesso não demorou chegar.


Enquanto interpretava Hamlet no Old Vic de Londres, um padre anglicano foi ter com ele no vestiário. O clérigo reclamou que Guinness não estava fazendo direito o sinal da cruz na peça. O encontro fez despertar novamente o seu interesse pelo Cristianismo.

Em uma noite terrível durante a Segunda Guerra Mundial, quando Londres estava sob um ataque da força aérea alemã (Deutsche Luftwaffe), Guinness refugiou-se no vicariato do reverendo Cyril Tomkinson. Ele estava preocupado com sua mulher e o filho pequeno, que se encontravam em um chalé alugado, na cidade de Stratford-upon-Avon. Entre um copo e outro de vinho, o padre anglicano deu a Guinness uma cópia de “Introdução à Vida Devota”, de São Francisco de Sales, e advertiu-o a sempre fazer uma genuflexão diante do altar. Guinness não fazia ideia do que fosse a tal “presença real”, mas, com bombas explodindo ao seu redor, aquele não parecia o momento apropriado para uma conversa do tipo.

Guinness voltou à fé anglicana e frequentemente andava de bicicleta nas manhãs escuras de inverno para receber a comunhão em uma igreja do interior. Sua amizade com Tomkinson diminuiu o seu anticlericalismo, mas não a sua aversão à Igreja de Roma. Foi preciso o Padre Brown para iniciar esse processo.


Padre Brown é um ordinário e brilhante personagem criado pelo escritor católico G. K. Chesterton. Uma das mais memoráveis interpretações de Guinness nos cinemas foi a desse humilde clérigo e detetive (Father Brown, de 1954). O filme estava sendo gravado em um remoto vilarejo da França. Uma noite, Guinness, ainda de hábito, estava em seu caminho de volta para os seus aposentos. Um garotinho, confundindo-o com um padre de verdade, segurou a sua mão e confiantemente fez-lhe companhia.

Aquele episódio aparentemente insignificante marcou profundamente Guinness. “Seguindo meu caminho – ele diz –, refleti que uma Igreja que conseguia inspirar tal confiança em uma criança, tornando padres tão facilmente acessíveis, mesmo quando desconhecidos, não poderia ser tão astuciosa ou assustadora como tantas vezes se pintava. Meus preconceitos de longa data começaram a ser abalados.”

Pouco tempo depois, o filho de Guinness, Matthew, de 11 anos, foi acometido por poliomielite e ficou paralisado da cintura para baixo. O futuro do garoto parecia incerto e, no final do trabalho diário no filme, Guinness começou a passar em uma pequena igreja católica no caminho para casa. Ele decidiu arriscar uma barganha com Deus: se Ele curasse o seu filho, Guinness não se oporia a que o filho se fizesse católico.


Felizmente, Matthew foi completamente curado e Guinness e sua esposa matricularam-no em uma escola jesuíta. Com 15 anos, ele anunciou que queria tornar-se católico. Mantendo a sua parte da promessa, o pai prontamente concordou com a decisão de Matthew.

Mas Deus queria muito mais. Guinness começou a estudar a religião católica. Teve longas conversas com um padre católico. Fez um retiro em um mosteiro trapista. Chegou inclusive a assistir Missa com a atriz Grace Kelly, enquanto trabalhava em um filme em Los Angeles. As doutrinas das indulgências e da infalibilidade papal seguraram-no por um tempo, mas, um dia, ele finalmente cedeu. “Não houve nenhuma turbulência emocional, nenhuma grande intuição, nenhum interesse adequado por questões teológicas; apenas um senso de história e de proporção das coisas.”

Guinness foi recebido na Igreja Católica pelo bispo de Portsmouth, e enquanto estava no Sri Lanka gravando “A Ponte do Rio Kwai”, foi surpreendido pela conversão de sua esposa. Como geralmente acontece com novos convertidos, ele experimentou períodos de profunda paz, alternados com deleites físicos. Ele relatava como, certa vez, começou a correr feito um louco para visitar o Santíssimo Sacramento em uma pequena igreja anônima. Refletindo sobre esse episódio, ele escreve: “Se a religião significava alguma coisa, era que o homem todo – mente e corpo igualmente – tem o dever de adorar. Senti uma certa segurança quando descobri que o bom, brilhante e agudamente sensato Ronald Knox já se tinha flagrado a si mesmo correndo, em várias ocasiões, para visitar o Santíssimo Sacramento.”

Sir Alec Guinness morreu em 2000, com 86 anos, agradecido ao Padre Brown, de Chesterton, que o conduziu pela mão até a Igreja, e grato pela recuperação de seu filho, que terminou fechando um negócio altamente proveitoso para o ator: a vida da graça, prelúdio da eternidade.

Fonte: Catholic Culture

Tradução e adaptação: Portal Terra de Santa Cruz