quinta-feira, 24 de março de 2011

Apostasia

Apostasia


Afirmais a paganização da Igreja, e eu não me incomodo em concedê-lo por um momento. A Igreja Católica apostatou? Seja. Ora, se veio a apostatar, é porque, de fato, não era ainda apóstata. Quem diz apostasia diz a passagem de uma realidade para outra diametralmente oposta. O ato de apostatar exige uma condição prévia inteiramente incompatível com a apostasia. Assim como uma barra de ferro só se poderá esquentar se estiver fria, e um pedaço de madeira só se poderá partir se estiver inteiro, e um homem só poderá morrer se estiver vivo, também a Igreja Católica só poderia apostatar se estivesse em algum momento livre de apostasia; só poderia paganizar-se se não estivesse paganizada ainda. Negareis o óbvio? Não o creio.

Muito bem. Mas se um dia a Igreja não foi apóstata, se não era paganizada em algum momento da história, segue-se que foi um dia legítima, autêntica, verdadeira. Se era verdadeira, era, por conseguinte, a Igreja de Jesus Cristo, pois não havia outra. Temos, então, que essa Igreja que chamais apóstata, foi em alguma época a verdadeira Igreja, pura nas suas doutrinas e práticas. Negareis o óbvio? Não o creio.
Como? A verdadeira Igreja poderia alguma vez apostatar? É aqui, senhores, que a vossa afirmação desmorona, como um imenso castelo de areia firmado na flacidez do chão molhado da praia. Desde quando a Igreja poderia apostatar? Nunca! Jesus Cristo teria sido um mentiroso, um impostor, e mui justa seria a sentença condenatória exarada por Pôncio Pilatos e a acusação vinda da parte do Sinédrio. Mas isso ninguém jamais cogitou. Justo foi Pilatos? Justo o Sinédrio? Impossível!

As promessas neotestamentárias da assistência divina à Igreja, por outro lado, são muitas e claras.

Ao dizer a Pedro do estabelecimento da Igreja, o Salvador garantiu que as portas do Inferno não prevaleceriam contra ela (cf. Mt. 16,18). Ora, se a Igreja depois disto apostatou, deixando de ser a verdadeira Igreja, segue-se que as portas do Inferno prevaleceram e Jesus foi um falso profeta. Em outra ocasião, pouco antes de ascender, o Senhor disse aos apóstolos que ficariam com eles "até a consumação dos séculos" (Mt. 28,20). Sabendo da proximidade da sua ida para junto do Pai, Jesus falou do Espírito Santo: "Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco" (Jo. 14,16; ainda 14,26; 15,26). Mas onde, senhores, [estaria] a eficácia da atuação deste Paráclito se apostatasse a Igreja?

Ah, Galileu! Se a Igreja apostatou, não passaste de um traidor miserável, que nos ludibriou a todos! Prometeste que as portas do Inferno jamais prevaleceriam, mas a Igreja apostatou. Prometeste a tua assistência até o final dos séculos, mas a Igreja apostatou. Prometeste o Espírito da verdade para que ficasse eternamente, mas a Igreja apostatou.

Ah! Serei ateu! Passarei para a irreligião! O Jesus em que acreditei mentiu para mim! Oh, judeus! Acolhei-me em vosso meio, abraçai-me em vossas sinagogas! O Messias não chegou! Jesus mentiu!

Bendito sejas, Caifás, por teres denunciado um falso Cristo! Barrabás, bendita a tua libertação. Judas! Judas! Por que tiraste a própria vida? Morreste por um farsante! Nero! Nero! A humanidade te será eternamente grata por teres usado da tua força para exterminar os seguidores de um embusteiro que se dizia Redentor.

Não soubesse eu, senhores, que a assistência divina é infalível e que tem, pelos séculos, preservado a Igreja de todas as heresias, e estes brados de revolta soariam os mais justos e louváveis. Mas sei que a Igreja, um dia edificada sobre a Rocha, jamais renegou os ensinamentos que recebeu, porque nela atua Aquele que é a própria Verdade, mesmo que assim não queiram as vossas incontáveis denominações, que, não tendo Deus Cristo por fundador, jazem impotentes ante um turbilhão de contradições doutrinárias.
Autor: Fábio Morais
Fonte: Revista "Pergunte e Responderemos" nº 459.

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