Em outubro de 1970, eu, Rivanda Marcelino Brasil Campos, nasci numa família católica, simples, sem conhecimentos sobre a doutrina da Igreja, mas católica. Em fevereiro de 1972, com um ano e quatro meses de idade, fui batizada. Anos após, recebi o sacramento da Eucaristia e, algum tempo depois, ainda no início da adolescência, o sacramento do Crisma. Cresci sendo levada, aos domingos e demais dias santos, às Missas da Igreja Católica Apostólica Romana. E assim, continuei o hábito dos meus pais, frequentando às Missas. Aos dezessete anos de idade, passei a frequentar um grupo de jovens da renovação carismática da Igreja São José de Taguatinga Norte, cidade do Distrito Federal, próxima à capital Brasília. Mas eu estava sem amparo, ficando um tanto desmotivada e encarando a Missa como algo repetitivo e sem sentido. Não confessei isso a ninguém e, certamente, foi aí que eu errei. Jovem e sem o conhecimento firme da doutrina católica, acabei aceitando explicações vindas do protestantismo. Fui, sem meus pais saberem, a cultos em igrejas protestantes. E assim, acabei sucumbindo, sem procurar nenhuma resposta dentro da doutrina da Igreja Católica Apostólica Romana para as dúvidas que me afligiam e aceitei, sem nenhuma avaliação, as “verdades” que o protestantismo me oferecia e que eu nem sabia que tinham por base a Sola Fide e a Sola Scriptura.
Aos dezoito anos, em 1989, conheci um jovem batista, ao voltar do trabalho para casa. Era o Gabriel Campos. Na mesma noite, acordei ao cair da cama e ter sonhado me casando com aquele rapaz que acabara de conhecer. Fiquei um tanto assustada com aquilo, mas não dei importância. Semanas depois e por acaso, tornamos a nos encontrar. Iniciamos um namoro, que desembocou num casamento, em maio de 1990, na Igreja Batista Alvorada de Taguatinga. Ressalto que não frequentávamos essa igreja, mas nos “casamos” lá, pois eu ainda estava a visitar várias igrejas protestantes. E assim ficamos durante muito tempo. Após um ano e sete meses, fiquei grávida e nosso filho nasceu oito meses depois. Tempos depois, passamos a frequentar a Igreja Batista Monte Horebe, na qual fui “batizada”. E lá estava eu com minhas novas dúvidas. Afinal, por que tinha de ser batizada novamente, se nunca deixara de crer em Jesus como meu Senhor e Salvador? Por que só a fé salva? E as obras? Na verdade, eu não me pronunciava, mas sempre considerei inaceitável ler na Epístola de São Tiago 2,24 que a justificação ocorre pelas obras e não somente pela fé e continuar dizendo que a salvação viria somente pela fé. O tempo foi passando, mudamos de residência e fomos frequentando outras igrejas protestantes. Nunca entendi o porquê de tantas divisões, mas também não me esforçava ou não queria, seriamente, buscar a resposta. Acabamos por frequentar cada vez menos e começamos a observar cada vez mais o fenômeno das divisões que não paravam e não param nas igrejas protestantes, a teologia da prosperidade e mais recentemente os grupos que abominam a reunião em igreja e o sacerdócio, mesmo possuindo estes um líder espiritual e um local para se reunirem. Mas guardávamos a crença protestante e ir para a Igreja Católica era algo, simplesmente, não cogitado.
Ocorre que Gabriel sempre gostou de ler diversos temas e a Igreja Católica Apostólica Romana era um destes. No início, leituras sem o intento de pesquisar, de buscar respostas para nossas dúvidas escondidas em algum recôndito da alma, mas essas mesmas leituras foram gerando questões, que por algum tempo foram deixadas de lado, mas como um rio mal represado, acabaram por inundar nossa alma e necessitavam de respostas honestas. Assim, Gabriel começou a dividir comigo suas dúvidas. Confesso que cada vez que ele me trazia uma informação ou uma dúvida, eu ouvia, mas não queria dar importância àquilo. Eu percebia que havia pertinência naquelas dúvidas e isso me preocupava. Num certo dia, ele apareceu com um livro chamado Todos os caminhos levam à Roma, escrito pelo ex-pastor calvinista Scott Hahn e sua esposa Kimberly. Eu não queria saber daquilo. Eu nunca havia ouvido falar de um protestante convertido à Igreja Católica! Por acaso, existiria explicação para a Igreja Católica Apostólica Romana? Mesmo que existisse, eu não queria tomar conhecimento. Eu queria, mesmo sem ter isso de forma clara, permanecer na minha ignorância. Mas a história de conversão daquele ex-pastor me parecia por demais interessante para que eu me negasse à leitura. Eu tinha que satisfazer minha curiosidade. Sinceramente, não esperava encontrar naquele livro nada que pudesse abalar minhas convicções protestantes sobre a Igreja Católica. Mas alguns trechos desse livro me fizeram pensar. E um desses trechos foi o seguinte: “Bom, doutor Gerstner, tanto protestantes como católicos estão de acordo em que Deus deve ter tornado infalível Pedro pelo menos em duas ocasiões: quando escreveu a Primeira e a Segunda Epístola de Pedro, por exemplo. Ora, se Deus o pode tornar infalível para ensinar com autoridade por escrito, porque é que não podia preservá-lo do erro ao ensinar com autoridade em pessoa? Do mesmo modo, se Deus pode fazer isso com Pedro e com os outros apóstolos que escreveram a Escritura, porque não podia fazer o mesmo com os seus sucessores, especialmente ao prever a anarquia a que se chegaria se não o fizesse? Por outro lado, como podemos estar seguros de que os vinte e sete livros do Novo Testamento são em si mesmos a infalível Palavra de Deus se foram Papas falíveis e concílios falíveis que nos deram essa lista?”
Naquele livro, vi, de certo modo, eu e Gabriel vivendo um momento semelhante. Obviamente que a bagagem de conhecimento do casal Hahn está a anos luz de distância da nossa. Estão muito adiante.
Em meados de setembro de 2013, Gabriel me convidou para irmos à Missa na Paróquia Nossa Senhora de Nazaré, uma igreja que fica a uns dez minutos de nossa casa, se formos de carro. Disse que não queria ir, mas não me incomodava que ele fosse lá matar sua curiosidade. Ele me perguntou, ao sair: E se eu me tornar católico, o que você fará? Na verdade, eu sabia que ele já estava convencido de suas descobertas, só queria confirmar suas certezas. Então respondi: Olha, você está com um pouco mais de sorte que o Scott Hahn, pois como já fui católica, não tenho toda aquela aversão que a Kimberly teve e que era totalmente compreensível considerando o passado dela. Vou respeitar sua decisão, quero que você se sinta bem com Jesus e com suas convicções, mas não quero ser pressionada e nem quero você tentando me convencer. Antes que entrasse no carro e se dirigisse à Igreja, perguntei a ele se não ficaria perdido durante a missa, pois não sabia as orações, quando ajoelhar, o que responder, e ele me disse que já havia lido um pequeno livro que explicava cada ato da missa. E assim, foi e voltou certo de que a Igreja Católica Apostólica Romana é a Igreja de Cristo. Na verdade, ele já estava convencido disto, após leituras dos primeiros padres da Igreja, aulas do Pe. Paulo Ricardo e escritos do Scott Hahn e do Papa Bento XVI, tudo em consonância com a Bíblia. Mas, mesmo assim, eu não esperava que ele tomasse essa decisão tão rápido. Eu estava com um certo medo. Eu não queria tomar conhecimento das respostas lógicas para a veneração e intercessão de Maria e de todos os santos, para a infalibilidade papal, para a formação do cânon da Bíblia e da própria Eucaristia e demais sacramentos. Ocorre que essas respostas me incomodavam, movimentavam algo dentro de mim, me causavam desconforto. Mas a cada dúvida, me era dada uma resposta, nos livros, nas aulas do Pe. Paulo Ricardo, no Catecismo da Igreja Católica, na sua tradição e na Bíblia. Eu poderia, simplesmente, não aceitar. E por muitas vezes, eu voltava a ler ou a assistir aos vídeos para verificar se não havia algum ponto falho, algo inaceitável, mas não encontrei. O fato é que as explicações se mostravam cada vez mais óbvias. Algumas pessoas devem ter concluído que meu retorno à Igreja Católica Apostólica Romana se deu por uma comodidade de acompanhar meu marido, mas não foi para agradá-lo que aceitei as explicações para minhas dúvidas, pois sempre respeitamos muito o momento um do outro. Vi que eram respostas verdadeiras e que eu não podia mais ignorá-las. Passei a acessar vários vídeos e textos do Pe. Paulo Ricardo (https://padrepauloricardo.org/). Fiquei tão sedenta, que acabei por fazer minha assinatura no site para acessar as aulas restritas aos assinantes. Em meados de janeiro de 2014, meu marido assumiu sua conversão aos amigos por meio do facebook, pois assim, não teria de ficar repetindo a mesma história. O mais difícil foi revelar à família dele, que tem longa tradição batista. Após o comunicado, percebemos o silêncio e também o distanciamento. Alguns conhecidos mais exaltados proferiram expressões grosseiras para nos descrever, outros deram gargalhadas, pois pensaram que estávamos contando uma piada. Fazer o quê? Vamos deixando nas mãos Deus.
Com minhas limitações, sigo lendo e ouvindo e aprendendo, cada vez mais, sobre a Igreja Católica Apostólica Romana. Aquela mesma Igreja, que Cristo deixou sob os cuidados de Pedro e sob a promessa de que as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Termino esse testemunho afirmando que Creio em Deus Pai Todo-Poderoso, Criador do céu e da terra e em Jesus Cristo, seu Único Filho e nosso Senhor, que foi concebido pelo Poder do Espírito Santo. Nasceu da Virgem Maria, padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado, desceu a mansão dos mortos, ressuscitou ao terceiro dia, subiu ao céu, está sentado à direita de Deus Pai Todo- Poderoso, de onde há de vir e julgar os vivos e os mortos. Creio no Espírito Santo, na Santa Igreja Católica, na comunhão dos santos, na remissão dos pecados, na ressureição da carne, na vida eterna. Amém.
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