quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

VIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA, MÃE DE JESUS CRISTO

VIRGINDADE
PERPÉTUA DE MARIA, MÃE DE JESUS CRISTO

O que significa este dogma? Trata-se de uma "invenção" da Igreja ou possui fundamento bíblico e histórico? Maria, mãe de Jesus, teve outros filhos? Quem eram os irmãos de Jesus, citados na Bíblia?

PARA NÓS, católicos, “Jesus é o único filho de Maria.” (CIC §501). Cremos que Jesus não teve irmãos de sangue, e isso testemunha o dogma da Perpétua Virgindade de Maria. Mas esta verdade de fé é muito contestada por “evangélicos” que, lendo superficialmente o Evangelho, encontram trechos aparentemente incompatíveis e menções aos "irmãos de Jesus". Vejamos o que diz O Evangelho segundo S. Mateus:
“Não é este o filho do carpinteiro? Não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, José, Simão e Judas? Não vivem entre nós todas as suas irmãs?” (Mt 13,55-56).

Sim, o texto sagrado cita "irmãos de Jesus", e em outras passagens ainda revela os seus nomes: Tiago, José, Simão e Judas. A versão de S. Marcos também nomeia os ditos irmãos de Jesus (Mc 6,3), e o Evangelho segundo S. Lucas diz: “Vieram ter com ele sua mãe e seus irmãos...” (Lc 8,19). Já o 4º Evangelho (S. João) relata: “Depois disto desceu Ele para Cafarnaum, com sua mãe, seus irmãos e seus discípulos” (Jo 2,12). Também nos Atos dos Apóstolos encontramos referências aos irmãos de Jesus: “...Perseveraram unânimes em oração, com as mulheres, entre elas Maria, mãe de Jesus, e os seus irmãos” (At 1,14).

E agora? Como podemos crer ainda na virgindade perpétua de Maria, se as Escrituras são tão claras em afirmar que o Senhor tinha irmãos?

Como sabemos, as passagens citadas acima são sempre usadas para atacar a fé dos católicos, e provocam mesmo confusão: Jesus teve mesmo irmãos de sangue? Acontece que a resposta nos é dada pela própria Bíblia Sagrada. Vejamos...

Como visto, os irmãos de Jesus seriam Tiago, José, Judas e Simão. – Mas, seriam eles filhos de Maria e de José? A resposta é não, não eram. Os Evangelhos testemunham que todos eles tinham outro pai e outra mãe. Pesquisando, vemos que a Bíblia cita dois Tiagos: um é filho de Alfeu (Cléofas), e outro é filho de Zebedeu. Lemos em S. Mateus (atenção para os grifos):
“Eis os nomes dos doze Apóstolos: o primeiro, Simão, chamado Pedro; depois André, seu irmão. Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão. Filipe e Bartolomeu. Tomé e Mateus, o publicano. Tiago, filho de Alfeu, e Tadeu.” (Mt 10,2-3)

E S. Mateus ainda nos revela o nome da mãe de Tiago e de José: “Entre elas se achavam Maria Madalena e Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu" (Mt 27,55-56).

Vemos então que Alfeu (Cléofas) era o pai de Tiago e de José, os mesmos que são chamados "irmãos de Jesus". A mãe deles se chamava, sim, Maria, um nome que já era comum naquele tempo. Essa Maria era a mãe de Jesus? Não. Sabemos isso com certeza porque o Evangelho segundo S. João mostra esta Maria ao lado da Virgem Maria, mãe de Jesus, na hora da crucificação: “Junto à cruz estavam a mãe de Jesus, a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas, e Maria Madalena.” (Jo 19,25).

Se a Mãe de Jesus estava junto com Maria de Cléofas, que era a mãe de Tiago e José, então sabemos, sem nenhuma dúvida, que não se trata da mesma pessoa. E vemos que João chama à outra Maria de “irmã da mãe de Jesus”: “...a irmã da mãe dele, Maria de Cléofas...”.

Logo, se o que o Evangelho diz é verdade (como católicos, cremos que é) está demonstrado que Maria de Cléofas era irmã da Maria mãe de Jesus, Nossa Senhora. Logo, segundo a Bíblia, Tiago e José, que são chamados irmãos de Jesus, eram na realidade seus primos.

Acabamos de provar que, na linguagem bíblica, o termo "irmão" pode designar parentesco, e não que quer dizer, necessariamente, que duas pessoas sejam filhas do mesmo pai e da mesma mãe.

Mas e quanto a Judas Tadeu, que também é citado na lista dos “irmãos de Jesus”? Este caso é bem interessante, porque o próprio S. Judas esclarece a dúvida, logo no início da sua Epístola, quando se apresenta: “Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de Tiago...” (Jd 1,1).

Portanto, S. Tiago, – que é diversas vezes chamado também de "irmão de Jesus", – assim como José e Judas, eram irmãos de sangue entre si, filhos do mesmo pai e da mesma mãe, e eram sobrinhos de Nossa Senhora; logo, eram primos de Jesus. Fica aqui "biblicamente provado" o costume dos autores dos Evangelhos de se referir a primos e primas, ou em alguns casos até a parentes mais distantes, como "irmãos".

Quanto a Simão, contamos com os registros históricos de Hesegipo, historiador do primeiro século (que possivelmente conheceu os descendentes dessas pessoas) que incluem Simão entre os filhos de Maria e Alfeu. – E por que, exatamente, a Bíblia chama essas pessoas de “irmãos de Jesus”? É bem simples: são chamados “irmãos” porque na língua hebraica falada na época não havia um termo específico para “primos”. Nos textos originais, a grafia AH é empregada para designar parentes de até segundo grau.
Além de tudo isso, muitas outras evidências demonstram que a Sagrada Família de Nazaré era composta por três membros apenas, Jesus, Maria e José, como no início do Evangelho segundo Lucas, que traz a passagem em que Jesus é encontrado no Templo de Jerusalém, aos 12 anos, pregando aos doutores. De acordo com a lei judaica, toda a família devia peregrinar a Jerusalém, na Páscoa (conf. Dt 16,1-6; 2Cr 30,1-20; 35,1-19; 2Rs 23,21-23; Esd 6,19-22). E vemos que somente José, Maria e Jesus foram a Jerusalém. Maria afirma que somente ela e José procuraram Jesus, quando se perderam dele: “Filho, por que fizeste assim conosco? Teu pai e eu, aflitos, estamos à tua procura” (Lc 1,48). Se houvessem irmãos de Jesus, seriam mencionados aqui, mas não são. Outros filhos não são mencionados entre os integrantes da Sagrada Família, em nenhuma passagem da Bíblia.

Outro trecho bíblico que prova que Maria não tinha outros filhos: no momento da crucificação, em meio às terríveis dores, Jesus confere ao discípulo João a tarefa de acolher Maria em sua casa (Jo 19,27). Se Jesus tivesse irmãos de sangue, ele não deixaria sua mãe com João, até porque a Lei mandava que, no caso da morte do filho mais velho, o irmão mais moço deveria assumir os cuidados da mãe. Como Jesus não tinha irmãos, deixou sua mãe com João. Mais uma vez, está na Bíblia.

Outras contestações

1. Há um outro trecho, do Evangelho segundo S. Mateus, que também é usado pelos que contestam a virgindade perpétua de Maria, que diz: “(José) a recebeu (Maria) em sua casa sua esposa; e não a conheceu até que ela deu à luz o Filho” (Mt 1,25). – Alguns querem ver aí uma insinuação de que José e Maria não coabitaram no período da gravidez, mas que depois disso tiveram uma vida conjugal normal.

Ocorre, porém, que a palavra do texto original traduzida por “até” não tem essa conotação. Para tirarmos as dúvidas, basta observar que se trata do mesmo vocábulo usado em 2Samuel (6, 23), que diz o seguinte: “Mical, filha de Saul, não teve filhos até o dia de sua morte”. Fica bem demonstrado que, no contexto que estamos estudando, a preposição “até” pode indicar continuidade. Mical não teve filhos até a morte. E será que depois da morte ela teve filhos? Óbvio que não. A palavra “até”, aqui, sugere que a situação de Mical permaneceu a mesma depois da morte. O mesmo vale para a sentença “José não a conheceu até que ela deu à luz o Filho”. Virgem antes, permaneceu depois, assim como Mical não teve filhos até a morte, e, evidente, nem depois.

2. "Jesus, o Filho primogênito" – Outra contestação recorrente é aquela que se baseia, mais uma vez, na interpretação equivocada de um único adjetivo: "primogênito". Porque e Evangelho segundo S. Lucas diz que Jesus foi o primogênito, alguns são rápidos em supor que Maria teve outros filhos. Será?
Vamos entender muito bem o que isso quer dizer: o Evangelho diz: "Maria deu à Luz seu Filho primogênito" (Lc 2,7). Como sabemos, a palavra "primogênito" significa primeiro filho, e apenas isto, podendo esse primeiro ser filho único ou não. Segundo o estudo da filologia, na época da redação dos Evangelhos a palavra "primogênito" significava, literalmente, "o filho que abriu o útero". Assim, no Livro de Números (Nm 3,40), lemos: "O Senhor disse a Moisés: 'Faze o recenseamento de todos os primogênitos varões entre os israelitas, da idade de um mês para cima, e o levantamento dos seus nomes'".

Se a palavra primogênito indicasse a existência de outros irmãos, como poderiam haver primogênitos "da idade de um mês para cima"? Claro que os bebês de poucos meses, sendo os primeiros filhos, não tinham nenhum irmão. Mesmo assim, são chamados primogênitos. Muito simples.
Um outro exemplo está no Livro do Êxodo: "E morrerá todo primogênito na terra do Egito, desde o primogênito do Faraó, que deveria assentar-se no seu trono, até o primogênito do escravo que faz girar a mó, assim como todo primogênito dos animais" (Ex 11,5).
O Faraó tinha um único filho, – e este é chamado primogênito. – Mais uma vez fica claramente demonstrado que o fato de Jesus ser chamado primogênito não implica que Maria tenha dado à luz outros filhos, simplesmente porque filho único também é primogênito; também é aquele "que abre o útero". Em lugar absolutamente nenhum da Bíblia está escrito que Maria, mãe de Jesus, teve outros filhos, ao contrário: todo o contexto do Livro Sagrado indica que Jesus foi seu único Filho.

** Para encerrar, lembramos que a Virgindade Perpétua de Maria não é fé somente católica. Os cristãos ortodoxos professam a mesma convicção, e até os islâmicos. E assim, também, os chamados reformadores protestantes, que terminaram por dar origem àquelas que hoje são chamadas “igrejas evangélicas”, deram deste dogma o seu testemunho, como vemos, por exemplo, nos escritos do próprio Lutero:

“O Filho de Deus se fez homem, concebido do Espírito Santo, sem o auxílio de varão, a nascer de Maria pura, santa e sempre virgem.” (Martinho Lutero, “Artigos da Doutrina Cristã”)
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• Ref. bibliográfica:
MADROS, Peter H. Fé e Escritura - 2ª ed. São Paulo: Loyola, 1989, pp. 140-153
ofielcatolico.blogspot.com

FELIZ DAQUELA QUE ACREDITOU

FELIZ DAQUELA QUE ACREDITOU (cf. Lc 1, 45)
trecho da CARTA ENCÍCLICA, LUMEN FIDEI, DO SUMO PONTÍFICE FRANCISCO


 58. Na parábola do semeador, São Lucas refere estas palavras com que o Senhor explica o significado da « terra boa »: « São aqueles que, tendo ouvido a palavra com um coração bom e virtuoso, conservam-na e dão fruto com a sua perseverança » (Lc 8, 15). No contexto do Evangelho de Lucas, a menção do coração bom e virtuoso, em referência à Palavra ouvida e conservada, pode constituir um retrato implícito da fé da Virgem Maria; o próprio evangelista nos fala da memória de Maria, dizendo que conservava no coração tudo aquilo que ouvia e via, de modo que a Palavra produzisse fruto na sua vida. A Mãe do Senhor é ícone perfeito da fé, como dirá Santa Isabel: « Feliz de ti que acreditaste » (Lc 1, 45)

Em Maria, Filha de Sião, tem cumprimento a longa história de fé do Antigo Testamento, com a narração de tantas mulheres fiéis a começar por Sara; mulheres que eram, juntamente com os Patriarcas, o lugar onde a promessa de Deus se cumpria e a vida nova desabrochava. Na plenitude dos tempos, a Palavra de Deus dirigiu-se a Maria, e Ela acolheu-a com todo o seu ser, no seu coração, para que n’Ela tomasse carne e nascesse como luz para os homens. O mártir São Justino, na obra Diálogo com Trifão, tem uma expressão significativa ao dizer que Maria, quando aceitou a mensagem do Anjo, concebeu « fé e alegria ».[49] De facto, na Mãe de Jesus, a fé mostrou-se cheia de fruto e, quando a nossa vida espiritual dá fruto, enchemo-nos de alegria, que é o sinal mais claro da grandeza da fé. Na sua vida, Maria realizou a peregrinação da fé seguindo o seu Filho.[50] Assim, em Maria, o caminho de fé do Antigo Testamento foi assumido no seguimento de Jesus e deixa-se transformar por Ele, entrando no olhar próprio do Filho de Deus encarnado. 

 59. Podemos dizer que, na Bem-aventurada Virgem Maria, se cumpre aquilo em que insisti anteriormente, isto é, que o crente se envolve todo na sua confissão de fé. Pelo seu vínculo com Jesus, Maria está intimamente associada com aquilo que acreditamos. Na concepção virginal de Maria, temos um sinal claro da filiação divina de Cristo: a origem eterna de Cristo está no Pai — Ele é o Filho em sentido total e único — e por isso nasce, no tempo, sem intervenção do homem. Sendo Filho, Jesus pode trazer ao mundo um novo início e uma nova luz, a plenitude do amor fiel de Deus que Se entrega aos homens. Por outro lado, a verdadeira maternidade de Maria garantiu, ao Filho de Deus, uma verdadeira história humana, uma verdadeira carne na qual morrerá na cruz e ressuscitará dos mortos. Maria acompanhá-Lo-á até à cruz (cf. Jo 19, 25), donde a sua maternidade se estenderá a todo o discípulo de seu Filho (cf. Jo 19, 26-27). Estará presente também no Cenáculo, depois da ressurreição e ascensão de Jesus, para implorar com os Apóstolos o dom do Espírito (cf. Act 1, 14). O movimento de amor entre o Pai e o Filho no Espírito percorreu a nossa história; Cristo atrai-nos a Si para nos poder salvar (cf. Jo 12, 32). No centro da fé, encontra-se a confissão de Jesus, Filho de Deus, nascido de mulher, que nos introduz, pelo dom do Espírito Santo, na filiação adoptiva (cf. Gl 4, 4-6).

 60. A Maria, Mãe da Igreja e Mãe da nossa fé, nos dirigimos, rezando-Lhe: Ajudai, ó Mãe, a nossa fé. Abri o nosso ouvido à Palavra, para reconhecermos a voz de Deus e a sua chamada. Despertai em nós o desejo de seguir os seus passos, saindo da nossa terra e acolhendo a sua promessa. Ajudai-nos a deixar-nos tocar pelo seu amor, para podermos tocá-Lo com a fé. Ajudai-nos a confiar-nos plenamente a Ele, a crer no seu amor, sobretudo nos momentos de tribulação e cruz, quando a nossa fé é chamada a amadurecer. Semeai, na nossa fé, a alegria do Ressuscitado. Recordai-nos que quem crê nunca está sozinho. Ensinai-nos a ver com os olhos de Jesus, para que Ele seja luz no nosso caminho. E que esta luz da fé cresça sempre em nós até chegar aquele dia sem ocaso que é o próprio Cristo, vosso Filho, nosso Senhor.

quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Testemunho João Marcos ex-protestante

Sempre fui cristão. Fui batizado na Igreja Católica quando eu era um bebê. Por volta dos meus 06 anos, eu e minha família fomos para a igreja protestante. Desde então, minha família frequentou inúmeras denominações, quase todas tradicionais, e nunca mais tive contato com o catolicismo.

A Idade das Trevas
Com o advento do Facebook logo me envolvi em discussões com ateus. Não tardou em aparecer o famoso argumento da Idade das Trevas: durante o período de mil anos entre 500-1500 a Igreja Católica oprimiu o Ocidente através do misticismo e da ocultação do conhecimento, além de perseguir oponentes por meio da Inquisição. Isto bastava para comprovar que a religião, especialmente o Cristianismo, está na contramão do progresso, da ciência e da liberdade individual.

Sendo cristão é meu dever conhecer e testemunhar da verdade. Então comecei a estudar a tal Idade das Trevas para verificar se a Igreja foi responsável por tamanha crueldade. Pobre de mim! Descobri que aconteceu exatamente o contrário: num milênio de caos, fragmentação política, invasões de povos selvagens e peste, a Igreja foi a única instituição ocidental a manter-se estável, um verdadeiro porto seguro. O conhecimento da época dos gregos e romanos foi preservado através de muito trabalho dos clérigos católicos, como por exemplo os monges copistas, responsáveis por copiar livros inteiros à mão. Em vez de combater a ciência, a Igreja foi por muitos séculos a única instituição a fomentar o desenvolvimento científico na Europa. Ela foi a criadora das universidades, seus clérigos traduziram muitas obras da época romana e grega, além de permitir que debates acalorados com pensadores de outras culturas acontecessem dentro das suas universidades.


O historiador protestante Phillip Schaff afirma: “Para vergonha das igrejas protestantes, a intolerância religiosa e até a condenação à morte continuaram muito tempo depois da Reforma. Em Genebra esta perniciosa teoria foi posta em prática pelo estado e pela igreja, admitindo até mesmo o uso de tortura e do testemunho de crianças contra seus próprios pais, com a autorização de Calvino. Bullinger, na Segunda Confissão Helvética, anunciou o princípio pelo qual a heresia poderia ser punida como os crimes de assassinato ou traição.”
Para encerrar este assunto, a própria Igreja admitiu os abusos cometidos na Inquisição. Tanto que ela abriu os arquivos da Inquisição a um grupo de 30 historiadores reconhecidos internacionalmente, para que eles investigassem os fatos.

Estudando a Fé

Este estudo sobre o papel essencial da Igreja Católica na Idade Média fez com que eu a admirasse. Mas isso era só o começo.

No início de 2015 decidi então conhecer a fé católica. Se o papel histórico da Igreja Católica na Idade Média foi muito diferente do que me ensinaram, será que a fé católica não me surpreenderia também? Isto eu precisava conferir.

Ao entender isto, fica fácil entender também porque os católicos devotam tantas orações e cerimônias aos santos em geral e à Maria em particular. Eles não acreditam que os santos são deuses e sim que os santos, hoje no Céu, são excelentes intercessores dos simples cristãos que estão aqui. Recomendo ler o que ensina oficialmente a Igreja a respeito de Maria.

Quanto à famosa Inquisição minha surpresa foi ainda maior: aproximadamente 2000 pessoas foram condenadas à morte pelos Tribunais da Inquisição medievais (1231-1400 dC). Durante as inquisições da Espanha e Portugal, as mais violentas, 6000 pessoas morreram nos 500 anos de duração dos tribunais eclesiásticos ibéricos. Considerando a população ibérica e europeia nos níveis da Idade Média (bem baixos, o que aumentará a proporção que mostrarei a seguir, de forma a mostrar ao leitor o “pior caso” da Inquisição), temos que a pior inquisição, a ibérica (de Portugal e Espanha) condenou à morte 17 pessoas a cada 100 mil habitantes, por ano. A inquisição medieval, mais branda, condenou à morte 0,08 pessoa a cada 100 mil habitantes, por ano. Só para comparar, no Brasil 22 a cada 100 mil habitantes morreram em acidentes de trânsito e 2,55 pessoas a cada 100 mil habitantes morreram por afogamento.

Não se trata da tática de justificar um erro apontando o erro dos outros. Tortura é inaceitável sob qualquer ponto de vista. No entanto, devemos ser justos e agir com a mesma rigidez no caso dos morticínios realizados por outros grupos, como os protestantes (veja o caso dos Anabatistas e a caça às bruxas - fenômeno exclusivamente protestante), islâmicos (preciso comentar?) e ateus - durante a Revolução Francesa, que nos ensinam ter sido fundamentada nos princípios de “Igualdade, Liberdade e Fraternidade”, foram mortas 140 mil pessoas em cinco anos. Quer dizer, uma revolução de cunho ateu matou 100 pessoas a cada 100 mil habitantes por ano,matando 05 vezes mais gente do que a pior inquisição (só pra constar, no Brasil morreram 28 pessoas a cada 100 mil habitantes por homicídio em 2013 - a Revolução Francesa matou 03x mais que os criminosos brasileiros).

Escolhi livros que explicassem a fé católica ao público protestante e testemunhos de conversões de protestantes ao catolicismo. Eu li estes: Catholicism for Protestants – Shane Shaetzel, Rome Sweet Home – Scott e Kimberly Hahn (encontrado no Brasil sob o título Todos os Caminhos levam a Roma), Born Fundamentalist. Born Again Catholic – David Currie, e A Fé Explicada – Pe. Leo J. Trese. Todos os conceitos mencionados daqui em diante foram exaustivamente explicados nesses livros.

Da minha experiência pessoal, creio que os principais problemas dos protestantes/evangélicos com o Catolicismo são a veneração dos santos e de Maria. Existem outros pontos de conflito, mas estes dois são os primeiros que surgem à mente do protestante comum.

Naturalmente, estes foram os primeiros problemas que procurei por explicações. Trata-se da Intercessão dos Santos. Por que o católico reza a Maria e aos santos? Isso não é idolatria? Não. O católico não considera a oração uma forma de adoração. Da mesma forma que pedimos oração a outros irmãos da igreja, o católico pede oração a pessoas que viveram vidas extraordinárias aqui e que agora estão vivas no Céu, diante de Deus.

Especificamente no caso de Maria, a mãe de Deus, creio que grande parte do problema protestante se resolva ao compreender como os católicos entendem a Intercessão dos Santos. Só resta acrescentar que ao católico é dogma de fé que Maria é a criatura mais santa dentre todas as criaturas de Deus. Os motivos dela ser assim considerada estão nos documentos da doutrina católica, e o estudo das doutrinas marianas chama-se Mariologia. Temos então o seguinte raciocínio:

1) A oração dos santos é mais eficaz porque eles estão em plena comunhão com Deus, no Céu.

2) Maria é a mais santa dentre todos os santos. Além disso, tem ligação íntima com Cristo, a ligação entre mãe e filho.

3) Logo (aceitas as premissas 01 e 02), é razoável pedir que Maria interceda por mim diante de Cristo.

O último conceito que é útil estudar para entender os católicos neste assunto dos santos é a diferença entre adoração e veneração. Adoração é o culto prestado unicamente a Deus. Assim como na Bíblia, o católico acredita que não existe verdadeira adoração sem oferecimento de sacrifício, que é o que acontece na Missa. O católico só oferece sacrifícios a Deus. Já a veneração é uma forma de prestar homenagem, uma demonstração pública de respeito. Da mesma que homenageamos grandes personalidades políticas, artísticas ou dos negócios, o católico homenageia, dentro do contexto cristão, aqueles que viveram vidas exemplares.

1) Onde a Bíblia diz que eu devo provar alguma coisa pela Bíblia?

2) Por que a minha interpretação da Bíblia (em meu caso, fundamentando a doutrina católica) está errada e a sua correta? Eu também estou me guiando pela Bíblia, nós só discordamos no que ela quer dizer.

3) Talvez você não está compreendendo o signifcado correto da Bíblia. Um exemplo: se eu lhe escrever o seguinte bilhete: “Eu não disse que você roubou dinheiro.” você conseguiria entendê-lo? Parece que sim, mas uma frase de 07 palavras pode ter vários significados. Pode ser que EU não disse que você roubou dinheiro, mas alguém disse. Pode ser que eu não DISSE, mas posso ter escrito ou pensado que você roubou dinheiro. Pode ser que eu não disse que VOCÊ roubou dinheiro, posso ter falado de outra pessoa. Pode ser que eu não disse que você ROUBOU dinheiro, você pode ter perdido ou queimado dinheiro. Pode ser que eu não disse que você roubou DINHEIRO, você pode ter roubado outra coisa. Uma simples frase de 07 palavras tem pelo menos cinco significados diferentes, a depender da ênfase dada a cada palavra. Agora me responda: não é a Bíblia muito mais complicada que uma frase de 07 palavras?

4) O que está em confronto não é o que a Bíblia ensina, mas o que nós interpretamos da Biblia.

5)  De onde vieram os livros do Novo Testamento? Como eles foram parar na Bíblia? Quem afirma rejeitar a Tradição porque segue apenas a Bíblia não pode fazer isso, porque foi a própria Tradição católica quem escolheu quais livros pertencem ao Novo Testamento. Em lugar algum a Bíblia diz quais livros fazem parte dela. Então, o simples fato de ser “biblista” só é possível graças à Tradição católica.

Ao contrário do que muitos pensam, a Igreja tem 2 mil anos de idade e já estudou profundamente os Mandamentos de Moisés, em especial os dois primeiros (sobre a idolatria e imagens).

Então, a meu ver, se é ilícito venerar os santos e encomendar-lhes orações, então é muito mais ilícito homenagear qualquer pessoa desta terra, ou pedir que algum irmão ore por mim. Se os santos, que viveram unicamente para Cristo, são indignos de homenagem, quão dignos seremos nós, meros mortais que não conseguem passar 01 dia se sacrificando por Deus?

Alguns dizem que essa veneração aos santos  diminui a glória devida a Deus. De forma alguma! Os santos só são lembrados por suas vidas heroicas porque Deus os ajudou com as graças necessárias para tanto. A diferença dos santos e de nós, meros mortais, é que eles responderam ao chamado de Deus de forma mais perfeita. Ou seja, a glória dos santos é a glória de Deus.

Existem muitos bons livros dedicados a explicar a devoção mariana, seu surgimento e desenvolvimento na História e porque ela não é uma forma de idolatria. Recomendo três livros que tratam toda essa questão num único volume: Behold your Mother - Tim Staples (aqui); Mary, Mother of the Son - Mark Shea (aqui) e The Marian Mystery: Outline of a Mariology - Denis Farkasfalvy (aqui). Estes livros demonstram que já nos primeiros séculos de Cristianismo havia devoção à Mãe de Deus.

Do motivo de não continuar protestante

Entender essas práticas católicas serviria apenas para desmistificar minha visão do catolicismo. Eu já começava a ser justo com a Igreja. No entanto, somente quando estudei e refleti sobre 02 assuntos que não costumam ocupar o primeiro lugar na lista de problemas dos evangélicos com os católicos que fiquei numa posição insustentável, levando-me a tomar a decisão sobre minha fé.

O principal fundamento teológico do Protestantismo, isto é, de todas as denominações não-católicas que surgiram a partir do ano 1500 é o Sola Scriptura. Este princípio ensina que “somente a Escritura é a suprema autoridade em matéria de vida e doutrina; só ela é o árbitro de todas as controvérsias. É ele que justifica a famosa pergunta dos evangélicos “onde isso está na Bíblia?” Esta é a pergunta que os católicos mais escutam dos protestantes.

O grande problema com o Sola Scriptura é que ele mesmo não é bíblico. Você leu isso mesmo. O princípio que afirma que a Bíblia é a única autoridade em matéria de fé não é bíblico. Não precisa acreditar em mim. Procure na Bíblia. Pergunte a qualquer teólogo protestante em qual parte da Bíblia está o Sola Scriptura. Ele não saberá responder. O que me deixou mais chocado foi descobrir que o Sola Scriptura é simplesmente aceito um axioma, uma ideia que não precisa de provas (é irônico os protestantes acusarem os católicos de dogmáticos quando a base da crença protestante é o dogma sem fundamento). E isso não sou eu quem diz: “Existem evidências internas e externas da inspiração e divina autoridade das Escrituras, mas estes atributos não são passíveis de 'prova'. A única evidência que importa é o “testemunho interno do Espírito” no coração do leitor. Ênfase de Calvino: 'A menos que haja essa certeza [pelo testemunho do Espírito], que é maior e mais forte que qualquer juízo humano, será fútil defender a autoridade da Escritura através de argumentos, ou apoiá-la com o consenso da Igreja, ou fortalecê-la com outros auxílios. A menos que seja posto este fundamento, ela sempre permanecerá incerta' (8.1.71). . Ou seja, a “prova” que uma interpretação particular da Bíblia é inspirada por Deus é uma “certeza maior e mais forte que qualquer juízo humano”. Basta se sentir certo para estar certo. Já pensou fazer isso num vestibular?

Tome a seguinte afirmação: “Não existe verdade”. Quando alguém afirma isso já se contradiz, porque essa mesma frase é em si mesma uma verdade. Na verdade, o que a pessoa quis dizer é: “Não existe verdade – exceto esta aqui”. É um princípio arbitrário, afinal, só é verdade porque quem o enuncia diz que é verdade. Um princípio falho em si mesmo não pode ser verdade. É o mesmo problema do Sola Scriptura.

O Sola Scriptura não encontra fundamentação bíblica e também histórica. Os cristãos primitivos, aqueles que viveram nos primeiros 300 anos depois de Cristo, nunca pronunciaram o Sola Scriptura, pelo contrário. Todos acreditavam na necessidade de existir uma autoridade central, outorgada pelo próprio Cristo, para interpretar as Escrituras. Um exemplo famoso (mas não o único) é o de Santo Agostinho: “Eu não acreditaria no Evangelho, se a isso não me levasse a autoridade da Igreja Católica. Não há nenhum registro dos primeiros cristãos afirmando que as Escrituras são a única e suprema autoridade na fé, e você verá o motivo logo abaixo.

Nos primeiros 300 anos de Cristianismo não existia Bíblia. É isso mesmo. O cânon, o conjunto dos livros cristãos que formaram a Bíblia, só foi definido entre 367-405 dC (curiosamente, até um historiador protestante reconhece estas datas). Durante todo esse período em que não existia uma Bíblia, qual foi a autoridade suprema dos cristãos em matéria de fé?  E pior: até a invenção da imprensa em 1455 pouquíssimos livros estavam em circulação, porque eram de difícil produção. Assim, a quem os cristãos podiam recorrer durante 1400 anos, já que poucos deles tinham os meios de acesso às Escrituras?
Além disso, “pelos frutos os conhecereis”: hoje existem milhares de denominações protestantes , e cada uma delas alega possuir a “verdadeira interpretação” das Escrituras. Quem está falando a verdade? Qual é a verdadeira fé e a verdadeira igreja? Qual o modo correto de interpretar a Bíblia? O que vale pra hoje e o que não vale mais?
Para ilustrar a fragilidade do Sola Scriptura, permita-me elencar 05 pontos levantados neste vídeo: https://youtu.be/jUceKg5H8NY

A Bíblia não caiu do Céu. Durante quase 400 anos os cristãos lutaram para reconhecer, aos poucos, os livros inspirados, até que concílios católicos, compostos por bispos católicos, definiram os livros da Bíblia. Foi a autoridade da Igreja que encerrou a discussão sobre os livros inspirados.

Então, para encerrar este assunto, o Sola Scriptura: não é bíblico, não é lógico, não é histórico e teve consequências catastróficas para o Cristianismo. Foi um conceito inventado depois de 1500 anos de Cristianismo. Sendo assim, é no mínimo questão de prudência considerar que a posição católica (de acreditar na autoridade da Bíblia, mas também na da Tradição conservada pela Igreja Católica) é plausível. Não estou pedindo para você se converter, apenas para reconhecer que não é absurdo a Palavra de Deus não se restringir a um livro. Isto é o mínimo que se espera de alguém honesto.

Ademais, o problema do Sola Scriptura é discutido exaustivamente por muitos autores católicos. Vale a pena constatar que o “só vale o que está na Bíblia” não é novo nem surpreende os católicos.

Diante de tudo isso, eu não podia mais aceitar o fundamento do Protestantismo, o Sola Scriptura. A Bíblia sozinha não é suficiente para resolver todos os conflitos da vida cristã. Simplesmente havia coisas demais que eram “deduzidas” (eu prefiro dizer “inventadas”) no calor do momento de uma época. Isso sem mencionar que a Bíblia é uma coleção de livros complexa demais para que um fiel comum, sem condições de estudar grego, latim, hebraico , aramaico, filosofia e teologia, pudesse interpretar de forma mais correta que o corpo de toda a Tradição cristã de 2 mil anos. Seria muita arrogância. Foi nesse momento que eu, pelo menos em consciência, deixei o Protestantismo.

Rome, Sweet Home

Deixar o Protestantismo e todas as denominações protestantes é uma coisa. No entanto, faltava um motivo claro e inegável para eu escolher a Igreja Católica. Este motivo foi a Eucaristia.

A Eucaristia é centro de toda a fé católica. Com muita distância, parece com a “Santa Ceia” dos protestantes, porém muito mais carregada de sentido e importância: o católico acredita que na Eucaristia o pão e o vinho se transformam, milagrosamente, no corpo e no sangue de Cristo. Assim, podemos dizer com razão que o católico “absorve” o próprio Cristo, presente de maneira real na celebração da Eucaristia. Loucura? Canibalismo? Essas acusações não são novas.

No Evangelho de João, capítulo 06, o próprio Cristo profere estas palavras: “Na verdade, na verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim.” (João 6:53-57). Logo em seguida, pela primeira vez em seu ministério, Jesus perde discípulos por causa de um ensinamento. Eles consideraram essas palavras de Jesus “muito duras” (vs 60).

A resposta de todo protestante é alegar que Jesus disse essas palavras no sentido figurado, isto é, comer a carne e beber Seu sangue seria um símbolo. O problema com essa versão é que ela faz de Jesus um insensível que gostava de induzir seus seguidores ao erro e à blasfêmia. Explico.

Em todo o Evangelho (nos 04 livros, Mateus, Marcos, Lucas e João) Jesus Cristo fez questão de explicar o significado de suas palavras quando falava por meio de linguagem simbólica, ou em parábolas. Veja no caso do “nascer de novo” a Nicodemos (João 3) e em todas as parábolas (semeador, joio e trigo, videira, talentos, etc). Jesus Cristo, sendo Deus, não pode induzir outros ao erro, ao pecado gravíssimo da blasfêmia. No entanto, justamente no caso da Eucaristia, Ele se calou. O único cenário que justifica Jesus permitir que vários dos seus discípulos O abandonassem é por ter dito exatamente o que Ele quis dizer. Não há forma mais clara de dizer que deveríamos beber Seu sangue e comer Sua carne.
Além da evidência do próprio Cristo, há a evidência histórica: já os primeiros apóstolos, e seus primeiros sucessores, acreditavam que Jesus estava realmente presente no pão e no vinho da Ceia. É por isso que Paulo fez a famosa advertência em 1 Coríntios 11:29: “Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor.” É pecado grave participar da Ceia sem discernir ali o corpo de Cristo.

Os protestantes insistem em dizer que a Ceia é apenas um memorial, uma cerimônia para lembrarmos de Cristo, e que consequentemente o pão e o vinho são símbolos de Cristo. No entanto, os primeiros cristãos já igualavam o corpo de Cristo na Cruz ao corpo de Cristo na Eucaristia Tornar o corpo de Cristo na Ceia simbólico é tornar a Crucificação simbólica.

Essas e outras provas a favor da Presença Real de Cristo na Eucaristia estão muito bem explicadas nos livros que eu grifei no meio deste relato.

Sabendo que o Cristo, capaz de sofrer uma morte cheia de torturas por nós, não seria capaz de perder discípulos por causa de uma confusão de palavras, eu não tenho motivos para acreditar em outra coisa que não seja o sentido literal das palavras de Jesus: que precisamos comer Sua carne e beber Seu sangue para ter vida em nós. E conhecendo que na Igreja Católica eu poderei participar do banquete do próprio Cristo, o Noivo, o Cordeiro, e que Ele, Deus encarnado, encontra-se fisicamente presente na Santa Missa, somente o orgulho obstinado poderia servir de motivo para não me render à Igreja Católica Apostólica Romana.

O que mais eu deveria fazer se soubesse que Jesus Cristo está fisicamente presente em algum lugar?
E eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos.” (Mateus 28:20)

Este é o breve relato dos motivos da minha conversão ao Catolicismo. Não tenho a intenção de torná-lo um tratado religioso ou histórico sobre a fé católica e, por essa razão, não tratei de outros temas de conflito com protestantes. Pra isso existem centenas de (bons) livros, e eu posso indicar alguns ao leitor interessado e honesto, o primeiro deles é o “manual” católico, o Catecismo da Igreja Católica. Por fim, que estas palavras sejam acolhidas em terreno fértil, para que produzam muitos frutos para a glória de Deus, nosso Pai.

Em Cristo Jesus Nosso Senhor,

Olímpia, São Paulo,28.07.2015
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Atualizei o relato com novas fontes de consulta hoje, 20/11/2015. Enfatizei o Catecismo da Igreja porque ali está a doutrina oficial da Igreja Católica, explicada de forma simples, com muitas referências à Bíblia (!) e aos cristãos primitivos. Se todos consultassem o que a Igreja ensina de verdade muitas dúvidas e acusações não existiriam. Proponho um roteiro de leituras para entender o que ensina a Igreja Católica, e conhecer a “visão do outro lado” diante de tantas acusações (de idolatria até conspiração contra o progresso). Espero que estes livros sejam apenas o início das suas investigações para descobrir qual é a Igreja que Cristo fundou.

Respondendo dúvidas protestantes: As diferenças entre a Igreja Católica e as evangélicas - Jaime Moura (aqui), Em defesa da fé católica nas questões mais difíceis - Alessandro Lima (aqui) e o excelente (foi o primeiro livro sobre a fé católica que eu li) Catholicism for Protestants - Shane Shaetzel (aqui). Neste livro o autor, católico bem no meio do Bible Belt (a região mais protestante dos EUA), responde de maneira curta, organizada e dentro da doutrina católica às dúvidas levantadas pelos protestantes. É um excelente material para começar a remover preconceitos sobre a Igreja.

2.História da Igreja: Coleção História da Igreja - Daniel-Rops (10 volumes, aqui), além dos livros já citados no meio do relato.

3.Testemunhos de convertidos à Igreja Católica: eu sempre achei que só pessoas burras ou desonestas permaneceriam ou se converteriam à Igreja Católica. Estava redondamente enganado. E foi só depois que eu saí do meio é que percebi como a grande maioria dos protestantes ainda pensa isso dos católicos. Espero que estes livros ajudem a desmistificar a noção que têm dos católicos. Porque estes protestantes se tornaram católicos - Jaime Moura (aqui); Todos os caminhos levam a Roma - Scott e Kimberly Hahn (aqui); Surprised by Truth: 11 Converts Give the Biblical and Historical Reasons for Becoming Catholic (aqui); Surprised by Truth 2: 15 Men and Women Give the Biblical and Historical Reasons For Becoming Catholic (aqui); Surprised by Truth 3: 10 More Converts Explain the Biblical and Historical Reasons for Becoming Catholic (aqui), toda a série de autoria do Patrick Madrid; o testemunho brilhante da conversão do Fábio Salgado à Igreja (cheio de dicas de livros, aqui); Lista de 201 ex-protestantes conversos ao Catolicismo (aqui); Todos os membros da Igreja Cristã Maranatha (Detroit) se convertem ao Catolicismo (aqui);. Com esses testemunhos espero que o leitor entenda que pessoas com motivos sérios, fundamentados, e com uma prática de vida piedosa, escolheram a Igreja Católica. Não é uma escolha por conveniência, malícia ou ignorância. Muitas dessas pessoas perderam amigos, familiares e todo seu círculo social de uma vida inteira quando escolheram a fé católica. Todos eram cristãos estudiosos, inteligentes, conhecedores da Bíblia e ativos na vida ministerial das suas igrejas. Se meu exemplo não basta, espero então que o exemplo destes irmãos em Cristo o ajude a perceber que a fé católica não é uma mentira ou tradição de homens.

4.Católicos que mudaram de vida: uma das perguntas que me fizeram é porque é tão difícil ver um católico que muda de vida. Bom, quando estudamos Arquitetura ou Engenharia Civil não começamos pelos prédios que caíram, mas por aqueles que estão firmes até hoje. O mesmo vale para o estudo dos católicos: estuda-se primeiro aqueles que viveram a fé de forma mais perfeita e correta. Estes são os santos. Leia algumas biografias dos santos como: Saints Behaving Badly: The Cutthroats, Crooks, Trollops, Con Men, and Devil-Worshippers Who Became Saints - Thomas Craughwell (aqui); Os Santos que Abalaram o Mundo - Rene Fullop Miler (aqui); Padre Pio - Um Santo entre Nós - Renzo Allegri (aqui); História de uma Alma - autobiografia de Santa Terezinha do Menino Jesus - aqui.

5.Material extra: eu recomendo vivamente o site do Padre Paulo Ricardo como fonte da doutrina oficial católica. Lá estão vários vídeos respondendo dúvidas comuns dos cristãos protestantes, além de aulas e cursos voltados aos católicos, para crescimento em santidade e conhecimento da fé; o site do Veritatis Esplendor e o site do Apologistas Católicos. Entre os apologistas católicos que acompanho, quase todos ex-protestantes, quero destacar dois (os outros você encontrará na lista do Fábio Salgado): Scott Hahn e Dave Armstrong. Leia tudo que puder desses autores. O primeiro tem alguns livros traduzidos (encontrados aqui). O segundo é especialista em demonstrar os fundamentos bíblicos do Catolicismo (veja o site dele). Acho muito interessante seus 150 motivos porque sou católico (estão resumidos, então se você discorda de alguns pontos, busque se aprofundar no assunto - no site dele, em livros, etc).

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Fonte original testemunho completo com as notas de rodapé: https://docs.google.com/document/d/1zgF8JFtOzalXSjPKqJU2o2TG28aIBUbtDz7swdXsHYk

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terça-feira, 18 de outubro de 2016

Padre Keith Newton, ex-anglicano agora sacerdote católico



"Acredito que depois de tantos anos, aquela visão tida por São Domingos Sávio torna-se realidade hoje. Via, ele, uma multidão de almas protestantes que se converteriam à fé Católica e foi o que exatamente aconteceu no Pontificado de Bento XVI: 400 mil de nossos fiéis pediram ingresso na verdadeira fé. Hoje entendo a beleza que nos fora roubada pela revolução protestante, mas eis que a cada dia mais, a Inglaterra tem se tornado mais católica. A coroa que irá triunfar não será da estirpe de Henrique VIII, mas da estirpe da Virgem Maria." (Padre Keith Newton, ex-anglicano agora sacerdote católico)



terça-feira, 11 de outubro de 2016

Honestidade e conversão

Compartilhado pelo Revmo.
Padre Ricardo de Barros Marques




ASSIM ESCREVEU-ME um jovem protestante domingo passado, a respeito do que lhe ensinaram sobre a Igreja Católica, para a qual se converte depois de leituras como a de Chesterton: "Esconderam dois mil anos de tradição. Mentiram sobre a inquisição. Mentiram sobre a Idade Média". A verdade tem uma força arrebatadora e quem a descobre tem se convertido às fileiras católicas. Como entender esse fenômeno de jovens que se convertem pela via intelectual senão pelo sopro do Espírito da Verdade?

Como nos lembra nosso irmão João Marcos, G. K. Chesterton dizia que começar a ser honesto com a Igreja já é estar no primeiro passo da conversão.

fonte: http://www.ofielcatolico.com.br/2016/08/honestidade-e-conversao.html

"É impossível ser justo com a Igreja Católica. No momento em que o homem cessa de atacá-la, ele sente uma atração em direção a ela. No momento em que ele cessa de gritar, ele começa a ouvi-la com prazer. No momento em que ele tenta ser justo ele começa a admirá-la." Chesterton

fonte:http://www.sociedadechestertonbrasil.org/resenha/a-igreja-catolica-e-conversao/

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Conversão de uma Testemunha de Jeová (Video)

Neste video Padre Luis Toro (venezuelano... video em espanhol) mostra, em uma analise bíblica, o erro dessa doutrina das "Testemunhas de Jeová"

 

quarta-feira, 31 de agosto de 2016

DE PROTESTANTE A MONJA DOMINICANA

Irmã Lucia Marie vive a 13 anos com as religiosas de sua congregação em Nashville,TN (Estados Unidos). Nesta reportagem explica como surgiu sua vocação depois de se converter.


fonte: http://www.religionenlibertad.com/video/de-protestante-a-monja-dominica-32306.html

terça-feira, 30 de agosto de 2016

A Igreja apostólica, hierárquica e visível

Praticamente todas as denominações protestantes --- há poucas exceções --- insistem que a Igreja é apenas invisível, composta por aqueles que "aceitaram a Jesus como seu único e suficiente salvador". Bem, não é isso que encontramos ao analisar as Sagradas Escrituras! Aqui está um texto do Dave Armstrong traduzido por Fábio Salgado de Carvalho


A Igreja apostólica, hierárquica e visível

(Dave Armstrong)

No Credo Niceno, que é aceito pela maioria dos cristãos, a Igreja cristã é descrita como sendo “Una, Santa, Católica e Apostólica”. Estas características são conhecidas como as quatro marcas da Igreja. As noções de santidade e de catolicidade não estão muito em disputa. A marca de santidade pode ser definida como a posse e disseminação do sublime, santo e cristocêntrico código moral do Cristianismo --- melhor exemplificado pelos Santos ou, de outro modo, por grandes personagens divinos. Todas as partes --- enquanto discordem em muitas questões particulares --- concordam que essa é a função central da catolicidade da Igreja, simplesmente, significando que ela seja universal. Aqui, protestantes e católicos discordam unicamente sobre a natureza daquela Igreja que é considerada universal e abrangente.

Isso nos leva à unicidade e à apostolicidade da Igreja, em que as discordâncias são enormes de fato. Muitos protestantes, especialmente os evangélicos, vêem a unidade e a unicidade subsistindo, primariamente, ou unicamente, na interna, invisível e espiritual unidade daqueles que estão, de fato, em Cristo em virtude de serem justificados, ou nascidos de novo, ou regenerados, com ou sem batismo, dependendo da denominação. Para eles, a igreja consiste em ter o Espírito Santo, em ser um eleito predestinado, em ser aquele que perseverará e está salvo agora e na eternidade.

A Igreja Católica tem sempre proclamado essa característica unificadora, também, sob o amplo e rico conceito de Igreja Mística (sob o qual ela reconhece o Protestantismo), ainda que não ponha a Igreja Mística contra a Igreja institucional ou visível como muitos evangélicos fazem. Para os católicos, então, essa característica da unicidade está substancialmente relacionada aos aspectos organizacionais e práticos da eclesiologia. Os católicos crêem que a Igreja é tanto um organismo como uma organização, e não apenas o primeiro. As "igrejas" místicas e visíveis são como dois círculos que, em grande parte, intersectam-se, mas que não coincidem. Elas existem conjuntamente --- de um modo um tanto quanto paradoxal, que carrega uma tensão consigo --- até o "fim dos tempos". Que tipo, entretanto, de organização é a Igreja, que abrange em si esses dois aspectos (assim como muitos outros)?

Nesse ponto da discussão, os católicos apelam à natureza hierárquica ou episcopal (isto é, sob a jurisdição de bispos) de governo da Igreja. Além disso, os católicos sustentam que esta forma é bíblica e divinamente instituída, não sendo, portanto, opcional ou de importância teológica secundária.

Finalmente, os católicos crêem que os bispos são --- devido ao próprio desejo de Jesus Cristo --- os sucessores dos apóstolos (o conceito de sucessão apostólica). Esta é a metodologia por meio da qual a Igreja Católica remonta a si mesma, historicamente, a uma sucessão ininterrupta, aos apóstolos e à igreja primitiva. O Catolicismo, então, enfatiza bastante tanto a continuidade histórica quanto a doutrinal, enquanto os protestantes evangélicos estão mais preocupados com a manutenção da paixão, de um comprometimento intenso e de um zelo que estavam presentes nos apóstolos e nos primeiros cristãos, estando menos interessados em formas de governo ou em doutrinas que são hoje vistas como “distintivamente” católicas. Eles tendem a ver claramente na Bíblia e na igreja primitiva essas doutrinas com as quais concordam, mas ignoram aquelas que estão em maior concordância com o Catolicismo, tais como o episcopado, o Purgatório e a apostolicidade.

Examinaremos as marcas da Igreja das quais os protestantes (apesar de muitas exceções) em grande parte discordam: a sua visibilidade, a hierarquia dos bispos, a sucessão apostólica e questões afins como a ordenação, os deveres dos sacerdotes e o sectarismo. A maioria destas questões está relacionada, em último caso, com a autoridade "per se". Os protestantes enfatizam a autoridade bíblica e os católicos, a liderança eclesiástica e episcopal e a Tradição. Se a Bíblia, entretanto, aponta-nos para a última e encoraja-nos a sermos submissos a ela, então, os dois tipos de autoridade não podem (biblicamente) estar em oposição.

Um dos aspectos inegáveis da unidade e da unicidade na Bíblia é a advertência constante (especialmente nos escritos de São Paulo) contra (e proibindo) as divisões, cismas e o sectarismo, seja por proferimentos ou por maus exemplos (Mateus 12.25, 16.18, João 10.16, 17.20-23, Atos 4.32, Romanos 13.13, 16.17, 1 Coríntios 1.10-13, 3.3-4, 10.17, 11.18-19, 12.12-27, 14.33, 2 Coríntios 12.20, Gálatas 5.19-21, Efésios 4.3-6, Filipenses 1.27, 2.2-3, 1 Timóteo 6.3-5, Tito 3.9-10, Tiago 3.16, 2 Pedro 2.1). Isto, claramente, não é algo periférico. Mesmo Nosso Senhor faz da unidade um meio pelo qual o mundo poderia crer que o Pai mandou o Seu Filho (João 17.21,23) e ora para que ela seja tão profunda como a própria unidade encontrada na Trindade (João 17.21-22). São Paulo faz da provocação de divisão um possível motivo para exclusão da comunidade cristã (Romanos 16.17) e diz que as divisões (já vigentes naqueles tempos) dividem a Cristo (1 Coríntios 1.13). Este sempre tem sido um dos pontos fortes da posição católica contra o Protestantismo e os próprios protestantes estão cada vez mais preocupados com aquilo que eles consideram ser uma escandalosa associação entre o denominacionalismo e o sectarismo, que todos concordam que é condenado nas Escrituras.

Uma das motivações sinceras e aparentemente razoáveis para a formação de uma nova seita é o desejo de apartar-se de pecadores e do pecado, que pode infectar os outros. A Bíblia, contudo, claramente ensina que a Igreja (especialmente no seu sentido institucional) é composta tanto por santos quanto por pecadores, por bons e por ruins. Vemos isto de maneira indiscutível em várias parábolas de Jesus sobre o Reino dos Céus (isto é, a Igreja), tais como a parábola do joio e do trigo, em que Jesus afirma que eles crescerão juntos até o Juízo Final ou até os últimos tempos (Mateus 13.24-30; cf. Mateus 3.12). Ele compara a Igreja a uma rede de pesca que captura peixes bons e ruins, que serão separados posteriormente (Mateus 13.47-50), e a um banquete de casamento, no qual um convidado foi retirado para as trevas (Mateus 22.1-14). Esta parábola termina com uma famosa frase: "muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”, o que poderia ser interpretado como a distinção entre cristãos mornos, mortos ou nominais e aqueles realmente eleitos que serão salvos no final. Ambos estão presentes na Igreja de acordo com Jesus. Um estado de coisas semelhante pode ser visto nas parábolas das dez virgens (Mateus 25.1-13) e dos talentos (Mateus 25.14-30) e a descrição de Jesus dos cristãos e da Igreja como uma cidade edificada sobre um monte (Mateus 5.14, cf. 5.15-16) é uma referência óbvia à visibilidade da Igreja. De nenhum modo, esta cidade pode ser vista como sendo invisível.

Jesus escolheu Judas como Seu discípulo, mesmo conhecendo o futuro, e ele era verdadeiramente um apóstolo (Mateus 10.1,4; Marcos 3.14; João 6.70-71; Atos 1.17). Da mesma forma, São Paulo, dirigindo-se aos anciãos (Atos 20.17), afirma que o próprio Espírito Santo fez deles bispos (RSV, guardiões; no Grego, "episkopos" --- Atos 20.28), mesmo que entre estes mesmos homens surgissem hereges e cismáticos (Atos 20.30). Este pensamento tem ecos no versículo que se assemelha a uma parábola em 2 Timóteo 2.20 (veja também 2.15-19).

Os protestantes costumam citar a analogia de Jesus da ovelha e do pastor (João 10.1-16; cf. 2 Timóteo 2.19; 1 João 2.19) que se reconhecem (10.14) como evidência de que a Igreja consiste apenas dos eleitos. No entanto, a analogia é desfeita quando também encontramos nas Escrituras aplicações do termo "ovelha" a reprovados não salvos (Salmo 74.1), a perdidos (Salmo 119.176), a Israel como uma nação (Ezequiel 34.2-3, 13, 23, 30) e, de fato, a todos os homens (Isaías 53.6).

Outras passagens pressupõem uma Igreja visível, identificável e “concreta”, como Mateus 18.15-17, em que os crentes são exortados por Nosso Senhor a trazer irmãos errantes e obstinados à Igreja, que, então, determinará para eles um veredito apropriado. Isto seria contrário ao teor do Novo Testamento se fosse uma referência apenas a uma igreja local --- tal cenário iria conduzir-nos a conseqüências totalmente avessas à prática (em que o pecador, simplesmente, freqüentaria outra denominação e seguiria em frente com a sua vida, como ocorre, tragicamente, em muitos casos no dia de hoje

São Paulo, ainda, em 1 Timóteo 3.15, descreve a “Igreja do Deus vivo” como sendo um “pilar e baluarte da verdade”. Esta declaração não faz o menor sentido no contexto de denominações que competem entre si e que, muitas vezes, são contraditórias entre si. Onde um religioso sincero, desinformado e sem qualquer sofisticação encontraria essa verdade? Apenas em um contexto doutrinal em que houvesse real visibilidade e unicidade de doutrina esse versículo pode ter qualquer possibilidade de aplicação prática.

Também é um equívoco tratar São Paulo como se ele fosse algum tipo de “cavaleiro solitário” espiritual, que estivesse por sua própria conta sem qualquer lealdade eclesiástica particular, uma vez que ele foi comissionado pelo próprio Jesus como um apóstolo. Na sua experiência de conversão, Jesus disse a Paulo que ele seria informado acerca do que deveria fazer (Atos 9.6; cf. 9.17). Ele foi ver São Pedro em Jerusalém por quinze dias para ser confirmado em seu chamado (Gálatas 1.18) e, catorze dias depois, ele foi comissionado por Pedro, Tiago e João (Gálatas 2.1-2, 9). Ele também foi enviado à igreja de Antioquia (Atos 13.1-4), que estava em contato com a igreja de Jerusalém (Atos 11.19-27). Mais tarde, Paulo reportou-se de volta a Antioquia (Atos 14.26-28).

O Novo Testamento refere-se, basicamente, a três tipos de ofícios permanentes na Igreja (apóstolos e profetas não existiriam mais): bispos ("episkopos"), anciãos ("presbyteros", dos quais derivam os presbíteros e padres), e diáconos ("diakonos"). Os bispos são mencionados em Atos 1.20, 20.28; Filipenses 1.1; 1 Timóteo 3.1-2; Tito 1.7 e 1 Pedro 2.25. Os presbíteros (por vezes, "anciãos") aparecem em passagens como Atos 15.2-6, 21.18, Hebreus 11.2, 1 Pedro 5.1 e 1 Timóteo 5.17. Os protestantes vêem estes líderes como sendo análogos aos correntes pastores dos dias de hoje, enquanto os católicos vêem-nos como sacerdotes. Os diáconos (por vezes, "ministros" em algumas traduções inglesas) são mencionados de maneira semelhante como sendo cristãos anciãos com freqüência similar (por exemplo, 1 Coríntios 3.5; Filipenses 1.1; 1 Tessalonicenses 3.2; 1 Timóteo 3.8-13).

Como freqüentemente costuma ser o caso na teologia e na prática entre os primeiros cristãos, existe alguma fluidez e sobreposição entre as três vocações (por exemplo, compare Atos 20.17 com 20.28; 1 Timóteo 3.1-7 com Tito 1.5-9). Isto, entretanto, não prova que os três ofícios de ministros não existam. Por exemplo, São Paulo, freqüentemente, refere a si mesmo como sendo um diácono ou ministro (1 Coríntios 3.5, 4.1; 2 Coríntios 3.6, 6.4, 11.23; Efésios 3.7, Colossenses 1.23-25), ainda que ninguém afirme que ele era meramente um diácono e nada mais além disto. De modo semelhante, São Pedro chamam a si mesmo como sendo um membro ancião (1 Pedro 5.1), muito embora Jesus chame-o de rocha sobre a qual Ele construiria a Sua Igreja e dê somente a ele as “chaves do Reino dos Céus” (Mateus 16.18-19). Estes exemplos são usualmente indicativos de uma humildade saudável em concordância com as injunções de Cristo sobre a servidão (Mateus 23.11-12; Marcos 10.43-44).

Após observação mais atenta, claras distinções acerca do ofício surgem e a natureza hierárquica de governo da Igreja no Novo Testamento emerge. Os bispos são sempre referidos no singular, enquanto os anciãos são geralmente tratados no plural. A primeira controvérsia entre os cristãos tem a ver com a natureza e com as funções tanto de bispos como dos anciãos (os diáconos têm, amplamente, os mesmos deveres tanto entre protestantes quanto entre os católicos).

Os católicos alegam que os anciãos/presbíteros, nas Escrituras, realizam todas as funções de um sacerdote católico:.

1) são enviados e comissionados por Jesus (a noção de ser chamado): Marcos 6.7; João 15.5, 20.21; Romanos 10.15; 2 Coríntios 5.20;

2) são representantes de Jesus: Lucas 10.16; João 13.20;

3) têm autoridade para ‘ligar’ e ‘desligar’ (Penitência e Absolvição): Mateus 18.18 (compare com Mateus 16.19)

4) têm poder para perdoar os pecados no nome de Jesus: Lucas 24.47; João 20.21-23; 2 Coríntios 2.5-11; Tiago 5.15;

5) têm autoridade para administrar a Penitência: Atos 5.2-11; 1 Coríntios 5.3-13; 2 Coríntios 5.18; 1 Timóteo 1.18-20; Tito 3.10;

6) têm poder de conduzir a Eucaristia: Lucas 22.19; Atos 2.42 (compare com Lucas 24.35; Atos 2.46, 20.7; 1 Coríntios 10.16);

7) ministram Sacramentos: 1 Coríntios 4.1; Tiago 5.13-15;

8) realizam batismos: Mateus 28.19; Atos 2.38,41

9) são ordenados: Atos 14.23; 1 Timóteo 4.14; 5.23

10) pastoreiam: Atos 20.17,28; Efésios 4.11; 1 Pedro 5.1-4

11) pregam e ensinam: 1 Timóteo 3.1-2, 5.17.

12) evangelizam: Mateus 16.15, 28:19-20; Marcos 3.14; Lucas 9.2, 6, 24.47; Atos 1.8;

13) curam: Mateus 10.1; Lucas 9.1-2,6;

14) expulsam demônios: Mateus 10.1; Marcos 3.15; Lucas 9.1;

15) ouvem confissões: Atos 19.18 (compare com Mateus 3.6; Marcos 1.5; Tiago 5.16; 1 João 1.8-9; pressuposto em João 20.23);

16) vivem o celibato se chamados a isto: Mateus 19.12; 1 Coríntios 7.7-9,20,25-38 (especialmente 7.35);

17) desfrutam da presença perpétua de Cristo e de Sua assistência de um modo especial: Mateus 28.20.

Os protestantes — seguindo Lutero — citam 1 Pedro 2.5,9 (veja, também, Apocalipse 1.6) a fim de provar que todos os cristãos são sacerdotes. Isto, entretanto, não exclui a existência de alguém que seja especialmente ordenado, que receba um ordenamento sacramental, uma vez que São Pedro estava reproduzindo a linguagem de Êxodo 19.6, onde os judeus foram descritos dessa forma. Uma vez que os judeus tinham um sacerdócio levítico separado, por analogia, 1 Pedro 2.9 não pode, logicamente, excluir um sacerdócio ordenado neotestamentário. Estes textos estão preocupados com a santidade sacerdotal, em oposição à função sacerdotal. Em sentido universal, por exemplo, nunca se referem à Eucaristia ou aos Sacramentos. Cada cristão é um pastor em termos da oferta de sacrifícios de oração (Hebreus 13.15), de esmolas (Hebreus 13.16) e da fé em Jesus (Filipenses 2.17).

Os Bispos ("episkopos") têm todos os poderes, deveres e jurisdição dos padres, com as seguintes importantes responsabilidades que se seguem:

1) jurisdição sobre os padres e as igrejas locais e o poder de ordenar padres: Atos 14.22; 1 Timóteo 5.22; 2 Timóteo 1.6; Tito 1.5;

2) responsabilidade especial em defender a fé: Atos 20.28-31; 2 Timóteo 4.1-5; Tito 1.9-10; 2 Pedro 3.15-16;

3) poder para repreender falsas doutrinas e para excomungar: Atos 8.14-24; 1 Coríntios 16.22; 1 Timóteo 5.20; 2 Timóteo 4.2; Tito 1.10-11;

4) poder para conceder a Confirmação (o recebimento da habitação do Espírito Santo): Atos 8.14-17, 19.5-6;

5) gestão das finanças da Igreja: 1 Timóteo 3.3-4; 1 Pedro 5.2.

Na Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento), "episkopos" é usado para denotar vários sentidos, como, por exemplo: oficiais (Juízes 9.28, Isaías 60.17), supervisores de fundos (2 Crônicas 34.12,17), superintendentes de sacerdotes e de levitas (Neemias 11.9; 2 Reis 11.18) e aqueles que tinham funções no templo e relacionadas ao tabernáculo (Números 4.16). Deus é chamado de "episkopos" em Jó 20.29, referindo-se ao Seu papel como Juiz e Cristo é um "episkopos" em 1 Pedro 2.25 (RSV: "pastor e guardião de nossas almas").

O Concílio de Jerusalém (Atos 15.1-29) dá testemunho de uma estrutura de governo episcopal hierárquica definitiva na Igreja primitiva. São Pedro, o chefe mais velho (o ofício de Papa) da Igreja inteira (1 Pedro 5.1; cf. João 21.15-17), presidiu e emitiu o pronunciamento autoritativo (15.7-11). Então, Tiago, Bispo de Jerusalém (como uma espécie de prefeito anfitrião da conferência) dá a sua anuência (Atos 15.14) com um proferimento conclusivo (15.13-29). Que Tiago era o único Bispo "monárquico" de Jerusalém é bastante evidente nas Escrituras (Atos 12.17, 15.13,19,21.18; Gálatas 1.19,2.12). Este fato é, também, atestado pelo primeiro historiador cristão Eusébio (História da Igreja, 7:19).

Muita evidência histórica e patrística também existe para o bispado de São Pedro em Roma. Ninguém contesta o fato de que São Clemente (101 d.C.) foi o único Bispo de Roma um pouco mais tarde, ou que Santo Inácio (110 d.C.) foi o Bispo de Antioquia, começado por volta de 69 d.C. . Então, o Bispo "monárquico" é tanto um conceito bíblico quanto um fato indiscutível na Igreja primitiva. No momento em que chegamos a meados do segundo século, praticamente todos os historiadores sustentam que cada um dos bispos lidera cada comunidade cristã. Isto deveria ser o caso em toda a cristandade, no Ocidente e no Oriente, até que Lutero delegou este poder aos príncipes seculares no século 16 e a tradição anabatista evitou um ofício eclesiástico completamente ou em grande parte. Hoje, muitas denominações não têm nenhum bispo de qualquer natureza.

Pode-se admitir tudo o que acabamos de mencionar como sendo verdadeiro, mas ainda se negando a sucessão apostólica, por meio da qual esses ofícios são transmitidos, ou legados, ao longo de gerações e de séculos, por meio da Sagrada Tradição. Esta crença, entretanto, da Igreja Católica (juntamente com a Ortodoxia Oriental e com o Anglicanismo) é também baseada nas Escrituras:

São Paulo ensina-nos (Efésios 2.20) que a Igreja é construída sob a fundação dos apóstolos, a quem o próprio Cristo escolheu (João 6.70; Atos 1.2,13; cf. Mateus 16.18). Em Marcos 6.30, os doze discípulos originais de Jesus são chamados apóstolos e Mateus 10.1-5 e Apocalipse 21.14 falam dos doze apóstolos. Depois que Judas desertou, os onze apóstolos remanescentes indicaram o seu sucessor, Matias (Atos 1.20-26). Uma vez que Judas é chamado de Bispo ("episkopos") nessa passagem (1.20), então, por expansão lógica, todos os apóstolos podem ser considerados Bispos (embora sejam de um tipo extraordinário).



Se os apóstolos são Bispos, e um deles foi substituído por outro, após a morte, ressurreição e ascensão de Cristo, nós temos, então, um exemplo explícito de uma sucessão apostólica na Bíblia, que se deu antes de 35 d.C. . De modo semelhante, São Paulo parece passar o seu ofício a Timóteo (2 Timóteo 4.1-6), pouco antes de sua morte, por volta de 65 d.C. . Esta sucessão mostra uma equivalência autoritativa entre os apóstolos e Bispos, que são sucessores dos apóstolos. Como um corolário, somos, também, informados nas Escrituras de que a Igreja, em si mesma, é perpétua, infalível e indefectível (Mateus 16.18; João 14-26; 16.18). Por que a Igreja primitiva seria configurada de uma forma e a Igreja tardia de outra maneira?

Toda essa informação bíblica está em harmonia com as visões eclesiológicas da Igreja Católica. Houve algum desenvolvimento ao longo dos séculos, mas, em todas as essências, a Igreja bíblica e o Clero e a Igreja Católica e o Clero são uma só coisa.

A evidência histórica dos primeiros cristãos depois dos apóstolos e dos Pais da Igreja é totalmente cogente também: existe consenso praticamente unânime quanto à natureza episcopal, hierárquica e visível da Igreja, que procede com autoridade, ao longo da história, em virtude da Sucessão Apostólica.

São Clemente, Bispo de Roma (101 d.C.), ensina a sucessão apostólica por volta de 80 d.C. ("Epístola aos Coríntios", 42:4-5, 44.1:3) e Santo Irineu é um testemunho muito forte e advogado dessa tradição nas duas últimas décadas do segundo século ("Contra as Heresias", 3:3:1,4,4:26:2,5:20:1,33:8). Eusébio, o primeiro historiador da Igreja, na sua "História da Igreja", c. 325, começa dizendo que uma das "principais questões" a serem tratadas na sua obra é a questão das "linhas de sucessão dos santos apóstolos..." (tr. G. A. Williamson, Baltimore: penguin Books, 1965, 31).

No tocante ao triplo ministério dos Bispos, padres (anciãos/presbíteros) e diáconos, Santo Inácio, Bispo de Antioquia, oferece-nos um memorável testemunho por volta do ano 110 ("Letter to the Magnesians", 2, 6:1, 13:1-2, "Letter do the Trallians", 2:1-3, 3:1-2, 7:2, "Letter do the Philadelphians", 7:1-2, "Letter to the Smyrnaeans", 8:1-2 — a última também é a primeira referência à "Igreja Católica"). São Clemente de Roma refere-se ao “Sumo Padre” e aos “padres” dos cristãos por volta de 96 (1 Clement, 40). Outro preeminente testemunho primitivo inclui Santo Hipólito (Tradição Apostólica, 9) e São Clemente de Alexandria (Stromateis, 6:13:107:2), ambos no início do terceiro século.

Mesmo João Calvino, contrariamente a muitos dos seus seguidores mais recentes, ensinou que a Igreja era visível e uma "Mãe" (Institutas da Religião Cristã, IV,1,1;IV,1,4;IV,1,13-14), que despreza o erro do sectarismo e do cisma (IV,1,5;IV,1,10-15), e que a Igreja inclui pecadores e hipócritas (IV,1,7;IV,1,13-15 — ele cita Mateus 13.24-30,47-58). Sua diferença com os católicos aqui é que ele define a Igreja visível como sua própria igreja reformada.

Tradutor:
Fábio Salgado de Carvalho


Fonte: http://www.catholicfidelity.com/apologetics-topics/church/the-visible-hierarchial-and-apostolic-church-by-dave-armstrong/